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Contos-->DISCURSO DE ANIVERSÁRIO -- 11/01/2017 - 02:00 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Eu nasci em abril de 1877. Isto não está nos registros porque não me conhecem. Se a vida é longa? Entre as minhas teorias sobre a vida, posso dizer que tenho uma longa carreira nesse show porque sempre me reinventei. Por isso nem seria preciso falar muito sobre mim, apesar de ter vivido em três séculos.



Da minha infância lembro muito pouco. Minha mãe vestia preto e gerou dez filhos. O meu pai andava na frente e não falava comigo. Nós tivemos duas criadas naquele tempo. Uma delas tinha a fama de lançar macumbas contra crianças. Eu e os meus irmãos tínhamos medo da tal mulher. E como tudo era terrível, achei que devia  responder àquelas ameaças de alguma forma. Um dia descobri que meu pai escondia um revólver de percussão Colt  1851. A criada macumbeira sabia deste Colt e qual era o seu uso. Procurei a arma entre os pertences do meu pai e apontei a máquina para o rosto da criada quando ela entrava em casa. A mulher arregalou os olhos, senti-me vingado e ali acabaram as macumbas contra crianças; ou não acabaram, porque estou por aqui até hoje. Talvez a grande macumba da criada tenha sido me deixar vivo.



Da minha fase adulta posso dizer que fui casado. Minha primeira mulher teve oito filhos. Todos eles já morreram. Do rosto de minha esposa, lembro da nossa primeira noite de amor. Ela arregalou os olhos para morrer vinte e cinco anos depois, vítima de tuberculose. Ela me chamava de “meu bem” e era uma boa alma. Não tinha inveja de ninguém: nem das irmãs, das primas, amigas...  Tinha a benevolência de uma heroína romântica... hoje nem sei bem, se ela foi ou não a personagem  de um filme.



Eu me casei pela segunda vez aos cinquenta anos e isto equivalia dizer naquela época, que um homem de oitenta anos havia casado. Estávamos em 1927 e pela minha idade atual tenho a impressão de que sempre fui velho, embora isto não faça muita diferença agora.



Tive um único filho com a nova mulher. Este filho morreu há dez anos e, no momento do seu óbito, por causa da esclerose múltipla, ele não sabia se eu era o seu pai ou um dos seus filhos.



Meu último filho gostava de Frank Sinatra e ficava tranquilo quando eu cantava “My Way” à capela.Na hora da sua morte eu segurei a sua mão e quis cantar “Only the lonely”.



O que posso dizer mais sobre este segundo casamento: quando me casei o Rio de Janeiro queria ser colorido. Ainda era uma cidade preta e branca, apesar das fotografias do alumínio brilhante que revestia os aviões Douglas DC-3 da Varig.



 Estou em 1950, estou em 2002. Não faz diferença.

DO LIVRO:"TOUROS EM COPACABANA"








 


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