NO DENSO BORRÃO VERDE
Jan Muá
15 de maio de 2023
O abacateiro meu vizinho
viçoso e bonito
está sendo beneficiado pelo sol do meio-dia
que lhe rejuvenesce os ramos
A leve agitação da brisa
lhe faz tremeluzir
os ramos
enquanto o abraça aos poucos
em movimentos alternados
agora os movimentos da brisa são mais leves
mas sempre cheios de vida
numa convivência natural
a brisa emigrou para outras bandas
e o poeta solitário
passou a ocupar-se da divina poesia
do claro dia iluminado
optando pela contemplação
dos muitos ângulos do painel
que agrega tintas e cores variadas
numa base estável de muita luz
ao poeta é oferecida a especificidade da palavra
e ele a irá utilizar como pincel de pintura
e como instrumento perscrutador
apropriado para descobrir núcleos claros
escondidos no denso borrão verde
postado diante de seus olhos
na retranca do painel
o poeta conseguirá deslumbrar
uma récua de nuvens brancas
vagarosamente circulantes
na abóbada azul do céu
no solo da terra os carros
continuarão trafegando velozes
na corrida insana em dia trabalhoso
sobre o Paranoá o deus Apolo mostra um rosto quente e denso
e se distribui pela aquática superfície
onde nadam biguás
Na paz da natureza, o poeta recolhe a lira
e retorna aos seres do mundo sua voz natural
para que possam se exibir em sua forma própria
diante dos telúricos mortais.
Jan Muá
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