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Contos-->Cadilac vermelho-acentinado -- 18/03/2017 - 18:16 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Raquel contempla  cinco anos de glamour, somado a  meio século de  posterior anonimato. Duas faces a vida lhe ofereceu. A primeira, tecida com fios  mágicos de encanto e beleza: aplausos, fama e beijos. A segunda, indiferença, solidão  e desprezo.  Sua maior recordação, palpável, era o Cadilac vermelho-acetinado com que, outrora, transbordava elegância e beleza na Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
— A senhora guarda muitos traços de beleza, fino trato e bom gosto— disse a moça.
— Nem tanto assim, minha filha. As linhas do rosto revelam as noites mal dormidas. Hoje, trocaria todo o glamour por uma cama aconchegante e uma coberta térmica nas noites frias.
Com que roupa eu vou?...
 Escolheu a melhor roupa, nem esportiva, nem glamourosa, como em seus tempos de estrela. Ela precisava cuidar-se para não se dirigir a Ravenala, chamando-a de Vanini. Com certeza, qualquer desalinho de raciocínio causaria desconforto irreparável. Precavida, a mãe de Fernão se policiava para não causar nenhum constrangimento. Conversou pouco e também pouco ouviu. Era a primeira vez que se encontrava com a futura nora.
 Havia um ar pesado, alguma coisa escondida por trás do olhar de Raquel, que durante aquele encontro disse apenas: ‘Meus filhos, o amor é lindo, e ao mesmo tempo, feio, se não vivido com maturidade... Não tem idade, não envelhece nem definha; nasce, cresce e se perpetua em escala infinitamente eterna. Muitos já falaram do amor e quase nada foi dito. Há muito ainda que se dizer e escrever. Há muito ainda que se viver para descobrir o verdadeiro amor. Amar é sonhar a dois os mesmos sonhos. Viver as mesmas emoções, partilhar da mesma sensação de dor ou de alegria. É um eterno retirar pedras do caminho ou aprender a desviar-se delas. Tudo que se faz com amor e por amor, conduz à tão sonhada felicidade, e a verdadeira felicidade consiste em amar o semelhante, como se ele fosse a outra metade de nossa alma. Quando me levanto, olho no espelho e dou bom-dia a mim mesma.
— Isso é verdade — acrescentou Ravenala — quem não ama a si mesmo,  não é capaz de amar os outros.
— Sim, minha filha! Seja gentil consigo mesma. Se olhares  para o espelho e disseres: como és feia! A sugestão ficará no espelho de sua alma, e tudo em sua volta parece feio, porque vemos no outro aquilo que está dentro de nós.
Lentamente, Ravenala deixava escorrer no canto da boca alguma página de sua vida, na esperança de que ele fizesse o mesmo. Mas,  Fernão era pedra de  cimento, areia e cal. Duro como uma rocha, mantinha-se firme, no propósito de não descobrir o véu, não revelar as sombras que pairavam sobre sua cabeça. Com certeza, suas queixas eram menores do que a dor. Casara no civil e no religioso. E de que lhe valeu isto. Pensava em confessar tudo a Ravenala  e o medo de perdê-la sugeria  que deixasse suas dores se consumirem em fogo brando. Não era mais casado.  O defensor do Vínculo admitiu que, ele, Fernão, ocultou doença grave, para se casar com a moça. Só isso bastou para que  Vanini conseguisse a Declaração de Nulidade do Matrimônio. Então, ela era solteira. Ele também. Com isso, ele estava pronto para assumir novo compromisso, desde que não dependesse de assinar papel em cartório ou na Igreja. Isso não queria mais. Não entraria em pormenores. Bastava dizer: “Sou separado”. Mas aí, a pergunta vem. ‘Separado e divorciado?’  Porque não dizer então: ‘Sou solteiro, meu casamento com foi declarado nulo.’  
— Inútil...
Deixou escapar uma palavra solta, brotada se suas reflexões.
— Queres me dizer algo?
— Não, não! Estou só pensando em uma viagem que preciso fazer à França, para concluir meu curso de aviação.
— E nem me convidas, talvez eu possa ir junto.
— Devo ficar por lá mais de um mês e você tem sua loja,  o colégio para cuidar... Além disso, eu jamais  iria a passeio. Não tenho boas lembranças das tardes cinzentas de Paris.
Ravenala  sentiu os ventos elísios congelarem seu coração. ‘Com que roupa eu vou?...Não! Não vou a lugar algum’ E se conteve em apenas levá-lo ao aeroporto.

***Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...
Imagem: Internet
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 18/03/2017
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