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Cartas-->Carta para minhas amigas da Usina -- 15/05/2004 - 23:46 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Minhas queridas,

Apresento hoje para vocês um texto-carta assinado por Giusto Io, heterônimo de João Ferreira, publicado em 2002, sobre a força das imagens e o peso destas na constelação da subjetividade das emoções humanas!
Trata-se de uma digressão poética com muita atualidade que vale a pena conhecer! Um texto diferente que desejaria ver divulgado, lido e comentado. Aguardo sua manifestação.
e-mail: joaofen@uol.com.br
Um beijo
João Ferreira
15 de maio de 2004

_____________________________________



REFLEXOS E LABIRINTOS



Minha querida

Foi interessante nosso encontro
Quando olhei, já sumias na distância indefinida Ainda te vi contornando o balão dentro do carro preto
que virou sombra
Ficou-me a fulguração de teu vulto filtrado pelo fosco vidro
que distorce a geometria dos rostos ausentes
Quis reproduzir em mim imagens tuas
mas fracassei pelo sombrio vulto dos fortes mognos verdes
que se sobrepunham à pista
Logo-logo uma franzina e anônima pastora arrastou sua figura pela mesma estrada
onde havias deixado as últimas cores de teu rosto
no ponto em que fiquei
A imagem da pastora atravessou a tua
De olhos postos no movimento
me impressionava o compassado e jovem ritmo
dos passos da figurinha que parecia
uma encarnação cabocla das margens
do Tocantins - o grande rio de praias esplêndidas
onde as tartarugas desovam em clandestinidade lunar
sob os olhares policiais de emissários da tribo tartarugal
Prestei toda a atenção ao desenho ondulado
das curvas da pastorinha e observei que eram mais perfeitas do que as da estrada
Fui tomado de imediato pelos efeitos
de uma sensação-percepção-visão-intersecção
de imagens como se estivesse caindo em mim
a chuva oblíqua do telhado
da casa de Fernando Pessoa
Ainda sob os efeitos da sombra dos mognos
devo dizer-te que já não há carros
na pista que deixaste
Mas persiste em grande estilo e é muito difícil de apagar
a imagem da pastorinha que retenho no mastro da emoção
Teu narizinho ainda tem alguma vida
na realidade de meu sonho
mas só me apareces solitária
e sempre sentada em teu carro preto
No meu album há algum fôlego
mas todo ele encrustado no vidro fosco do carro preto
Perturba-me a teoria do instante
defendida por André Gide
e sinto dificuldades inesperadas
em distinguir imagem de imagem
nas minhas janelas oculares que filmam o rosto do mundo
Talvez pela dificuldade real de conciliar a imagem da pastorinha com a tua imagem
nas mesmas paredes vivas da recordação
Os tratados de doutrina existentes em minha estante
tentam explicar muitas coisas
mas a interpretação dos autores não coincide com as realidades que encontrei hoje
na pista por onde passou teu carro preto
e na pós-pista percorrida por meus olhos
Uma pluralidade de vias e de emoções me assombra
Nota que são comuns as imagens sobrepostas
tanto aqui quanto na China, no Tibet ou no Tocantins
Para mim, isso é um incrível ponto de partida para se debaterem
os fundamentos da teoria da emoção
Para terminar meu relato,
queria ainda dizer-te que na pista das sombras de mogno,
um bando alegre de dançarinas do teatro Amazônia deixou novas imagens
para serem recolhidas por meus olhos e minha emoção
Imagens que tive de processar
juntamente com as outras no laboratório da alma Imagina agora quantas figuras e imagens
estão pecorrendo a pista desde que partiste
São rostos, sorrisos, maquiagens, cabelos, passos, cores, roupas,
movimentos, flashs
No ar soam o eco dos passos, comuns ou dançarinos,
os passos alegres, atléticos e desafiadores...
Já pensaste na dinâmica do que te estou narrando?
Trata-se de uma riqueza de fulminantes imagens que brotam magicamente
da alegria jovem da poesia que as pessoas emprestam ao ato de viver
Imagina se cabe agora alguém se preocupar com uma teoria poética de rigor
O que é teoria poética senão a sobreposição de imagens que te estou narrando?
Eu prefiro dizer que meus olhos
se regozijam com a aparição deste jardim de almas jovens
onde há rosas de todo o tipo cujo perfume me estonteia
Enquanto arrumo minhas impressões múltiplas, pelas escadas do prédio
onde moro,
a minha vizinha desce atabalhoada
com um cachorrinho poodle
preso pela corda
Olhando a moça, meus neurônios tumultuados pensaram não sei a troco de quê
que sua calcinha deve ser de cor bem diferente da calça laranja que veste agora
Eu sei que amanhã
na hora do Cooper
subindo as encostas que definem a linha do horizonte
vou ponderar todas estas sensações e planos
que deixarei para se arrumarem sozinhos
no meu platô cerebral e sensitivo
Tenho algum receio de que me digas
que passei a tarde sem te telefonar
e que que ao me despedir queiras gravar o meu ciao bem altinho
Puxa, minha querida!
Como exageramos nas relações
e nas exigências, Princesa
E se a pastorinha exigir de mim que a cumprimente também?
E se as dançarinas abrirem o sorriso
para minha emoção e cada uma delas quiser pegar a minha mão
para me arrastar até à nascente do parque selvagem?
Está pintando por aí uma dinâmica de discurso para equilibrar os relacionamentos
na caminhada que eles percorrem entre beijos, carícias, distâncias, sombras,
ciúmes, zelâncias e neuroses, notaste?
Parece que desta vez
tenho pela frente um processamento difícil
de imagens e sensações
Peço-te que me dispenses agora
um nadinha de tempo...
Depois não me esquecerei de te fazer chegar
aos lábios um pouquinho do coktail
que preparei nesta tarde, ok?
Os céus ficarão mais carregados com estes minutos de espera, eu sei.
Mas é hora de eu e meus leitores desocultarmos alguns segredos de vida
Vale a pena esperar
Isto é apenas para não ficarmos malucos...
No momento quero ficar sozinho
para curtir as emoções sensações e percepções que tenho cá dentro no coração
Para outra vez deixa teu carro preto
correr sozinho na estrada,
e tenta fazer tua corrida
sem ficar na linha dos vidros foscos...
Ok, queridinha?

Giusto Io
janeiro de 2002











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