Usina de Letras
Usina de Letras
142 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62069 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50476)

Humor (20015)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6162)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->SORRISO PERDIDO -- 10/05/2017 - 16:34 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



 





Fez um recorte no final da última página e foi dormir. No dia seguinte... bem, no outro dia restavam poucas linhas.





Chorou muito. Naquela semana, tinha feito  enxugamento três vezes repetidas, da primeira à última página. Escreveu até tarde da noite ou dormiu cedo da madrugada. Sob o impulso da inspiração, escrevia... escrevia... Acrescentava, excluía... Foi  na última exclusão que perdeu seu  tesouro.





— Acordado? São três horas da manhã!





— Sim, acordado. Não me vem nenhum sonho maravilhoso dos momentos lindos que não tive. Só me vem agitação e desassossego da alma. Então, acordo e me ponho a conversar com os personagens, como se a vida real fosse uma ficção que se escreve em livros.





— O senhor fala como se lesse as páginas de uma história de vida.





—  É assim que as coisas funcionam. O cérebro é uma caverna venosa, como teia de aranha de uma gruta nunca penetrada por exploradores. Nele há uma biblioteca enorme de todas as páginas folheadas, durante a existência, algumas cobertas de cinzas, por falta de manuseio.





Rolou a tela do computador, escreveu alguma coisa, e vasculhou mensagens instantâneas,  procurando em algum lugar o sorriso perdido.





— Como reencontrar um tesouro?





— Sequer entendes por que uma concha reproduz o som do mar, e queres entender o cérebro humano?





— É  mais fácil  decifrar o barulho da maré guardado numa concha abandonada do que encontrar palavras, uma vez lançada nos ares. Para onde vão as palavras depois de proferidas?





— É só impressão, Bobinho! A concha não reproduz o marejar das águas. Ela apenas concentra os sons, produzidos em seu derredor  como a reverberação do eco numa caverna.





—Como reencontrar palavras espalhadas nos ares. Só as conchas sabem fazer isso.





—Invente um aparelho e podes captar o que foi dito na oralidade há mil, dois mil ou mais anos.





Sentiu-se  um caranguejo ermitão arrastando nas costas a casa alheia. Não descansou. Caminhou  nas dobras do mar, procurando  seus anseios e medos, numa luta vã contra o rochedo. Estava  só. Sozinho na praia. Mas não havia praia. O mar cobriu toda a areia de suas lembranças e o sorriso chega cauteloso, escondendo lágrimas entre o rochedo de muitas interrogações: 'Como desvendar o misterioso labirinto do coração?' 





Tribulações surgem registradas nos diálogos aflitivos:





— Bata à porta! Chame a tia para ver se ela está viva!...





— Estava bem aqui, agorinha. Conversando.





As sobrinhas acham que não é nada grave. A tia deve ter feito a imagem, sem querer. Está  aprendendo a lidar com whats.





—Tirou foto dos pés ou caiu da escada?





— Não sei.  Ela disse que perguntou às pernas, e à cabeça, se poderia com 84 anos subir na laje por uma escada externa.





Alaíde tremeu e amarelou.





— Há uma idade em que não devemos obedecer nem às pernas, nem à cabeça, porque elas há muito, não nos obedecem.





Cai uma chuva amena, e os rostos antes aflitos, voltam a sorrir.





— Neozinha fez uma imagem dos pés e enviou, sem querer.





— Também acordada, Tânia?





— Estou por aqui, tio. Meu pequeno ainda acorda uma vez na madrugada, sempre por  esse horário... Que pena a perda do seu livro... Com certeza, um tesouro!!! Não seria bom ouvir uma segunda opinião? Meu computador sofreu pane, perda total e consegui recuperar fotos (minhas preciosidades).





— Creio que posso usar uma personagem que diz ser capaz de regurgitar tudo que leu. Há muitos e-mails trocados com Ravenala, contendo anexos do livro, embora defasados pelas alterações sofridas no decorrer de meses de enxugamento.





— Confira a lixeira!





— Não é tão difícil assim. Não está na lixeira.





 Robert   encontrou o arquivo salvo como: ‘Livro em construção, acrescido dos dizeres: ‘não presta’. Examinou cuidadosamente o achado. Não prestava mesmo! De tanto lapidar a pedra bruta, pouco restava do que tinha antes. 





***





Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim..
 


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui