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Contos-->RUÍDO INTERPLANETÁRIO -- 24/05/2017 - 15:02 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos












Dois terços dos viventes têm seus nomes inscritos no livro da vida como candidatos a uma vaga no céu.  Lá não há noites nem trevas, tudo é tão claro como o dia. Mas não há dia. É como se vários sois nascessem em cada fração de segundo.
— Penso que o céu não é um lugar definido em mapas geográficos. É um estado de espírito, no qual, a alma dos justos contempla a face de Deus. O céu é a plenitude da paz.
— O silêncio?
— Sim, o silêncio da alma. O silêncio da paz.
— Mas o silêncio prolongado se torna monótono.
— Falo do  silêncio quando se deseja tê-lo. 
— O silêncio é a luneta que sonda os corações, penetra no mais profundo da alma e traz resposta a muitas indagações. Mas é preciso saber ouvir o ruído do silêncio, conhecer o melhor momento de falar, e a hora  de fechar a boca e abrir o coração..
— Realmente, o humano deve silenciar para que possa ouvir a Deus. 
— Convém que ora silenciemos, ora interrompamos o silêncio com questionamentos: o quê, por quê, e para quê. Menos porquês, e mais para quê, é muito  importante, para entendermos quem somos.
— Ouço o ruído de passos no soalho.
— Mandaste colocar soalho na caverna? — depois de um sorriso franco ela respondeu — eu estava na casa da rua Ibituruna, no Rio de Janeiro...
— Também escutei o rangem de sapatos nas tábuas vernizadas da sala.
— É o barulho do silêncio.
— Não, menina! É meu invento que dá sinais de que vai funcionar.
— Daniel!  Pare o avanço tecnológico ou morrerão todos os habitantes da Terra! Não permita que criem o teletransportede células: o espaço aéreo ficará intrafegável... Pare com o túnel do tempo, os homens mudarão toda nossa história. Será um desastre incalculável!
 —I can not interfering in the freedom of man  
— Ô meu anjo! Ajuste o tradutor para Português. Sabes que meu Inglês oral é péssimo!  
— Eu disse: Não posso interferir na liberdade do homem.
— Eu sei. Nem Deus interfere... mas... pare de enviar sinais de teus inventos para o planeta Terra. Usemos esses recursos apenas aqui. Sabemos como controlá-los.
— Esqueces  que já estás do lado da vida?
—Sei. Mas não alcancei ainda o terceiro céu. Fico  contente em estar aqui. Muitos vão direito para o inferno, logo no julgamento particular. O purgatório é minha garantia de que o céu está próximo...
— Ainda estamos na ilha, bobinha!
— Para mim é como se já estivesse no céu.
— Não queres sair daqui, Ravenala, não é mesmo?
— Temos a bússola e o azimute. Só não quero usá-los para sair daqui. Quebre esse aparelho,  por favor, Daniel, estás contaminando  a terra com a radiação de teus inventos!
— Quebrar o psicoteledecodificador ou a bússola?
— A bússola, não! Só o psicoteledecodificador deve ser quebrado. Fiquemos com a bússola. Pode ser que precisemos dela.
Sentiu-se na obrigação de explicar que Psicoteledecodificadoré um aparelho com formato de  brinco grudado no pavilhão do ouvido,  ou no lóbulo da orelha, e funciona como uma antena parabólica de uso indispensável para os que desejam conversar com os mortos. 
Fez um minuto de silêncio, depois continuou:
— Não funciona com pessoas que têm um chip na palma da mão, ou na testa, essas não  podem fazer contato, indiscriminadamente, com qualquer morto, senão com aqueles que estão depois dos muros abissais. Lá, eles não precisam do aparelho auricular. Mandam e recebem mensagens por meio de bombas de pensamento, como no tempo de nossos primeiros pais no paraíso.
— Deve ser bom não ter que usar esses penduricalhos na orelha — disse Daniel.
— Não é bom. Os que vivem além dos muros que separam a luz das trevas, são maus. Suas auras não têm brilho. São estrelas apagadas que usam bombas de pensamento, para sugestionar o mal na mente dos humanos. Entre eles, funciona como uma ordem originada da cadeia hierárquica superior.
—  Êta gente! Há hierarquia no inferno?
— Claro  que há! Se subalternos não cumprirem completamente uma tarefa, são rebaixados para a mais profunda escuridão, por isso insistem em suas sugestões. Essas mesmas bombas lançadas aos que ainda  estão na vida militante, só surtirão efeito, se os viventes acolherem a sugestão, dando como resposta uma ação correspondente. O demônio não tem poder de ler o que pensam os humanos.
— É verdade, ele não pode. O ato de acolher e praticar uma ação por ele sugerida é a resposta de que precisa. Isso provoca  a sensação de penetrar na mente dos homens. Mas nada ele pode fazer sem o consentimento do interlocutor, falo assim porque, quando se aceita uma sugestão demoníaca, passa-se a interagir com o demônio.
Robert    conectou minúsculos plugues a uma bola energizada com elementos trazidos de Marte, e conversou com a mãe numa língua universal usada pelos falantes do ano de   2057.
Já naquele ano, o psicoteledecodificador era de uso comum entre os mais abastados. Custava uma fortuna, e como se tratava de inovação, funcionava ainda canhestramente, e, em caso de falhas, toda culpa recaia sobre o Sistema. Virou justificativa das falhas humans: ‘O sistema está fora do ar.’
 — Preciso que me passes a nova frequência do papai, parece que ele mudou os sinais de acesso e há mais de sete anos do calendário-terra, não consigo falar com ele. 
— Bobbynho, teu pai foi elevado ao sétimo céu, de lá é impossível a comunicação com plataformas inferiores. Salvo, uma vez em cada sete anos, o que aqui representa apenas um Planck, ou seja:  5.39121 x 10 - 44 segundos, portanto, muitas vezes menor que os segundos bissextos do tempo solar. 
— Resuma  a conversa mãe. Minha bateria está descarregando. 
—  A minha também. Gastei os últimos elementos trazidos de Vênus, e não há previsão de chegar novo estoque no mercado interplanetário. 
—Está bem! Até o próximo segundo bissexto.
— Até!
— Ainda estás na frequência? Esqueci-me de orientá-la: use elementos de Marte.
— Não posso.
A conexão foi interrompida. 

***
Adalberto Lima, fragmento de Estrela que o vento soprou.

 
Enviado por Adalberto Lima em 24/05/2017






Imagem: Internet



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