Lembranças
maria da graça almeida
Hoje acordei saudade. O peito inflado, as lembranças desfilando nítidas, coloridas.
Revi o brilho dos meus sapatinhos de verniz, concorrendo com a luminosidade das jabuticabas maduras, que me enchiam a boca d´água. Delas me fartava, até ouvir a preocupação de minha mãe: vai ter dor de barriga, heim!
O maior encantamento vinha mesmo do caramanchão verde, com seu antigo balanço de cadeiras largas e confortáveis , uma diante da outra que iam de lá para cá, daqui para lá, sob os gemidos dos ferros que as sustentavam.
Da casa, lembro-me de tudo, do filtro alto, da banheira branca com o fundo enferrujado em volta do ralo; da textura do divã que se dispunha debaixo de uma série de janelinhas que me reportavam à s de um trem.
Lembro-me das delícias que nos oferecia vó Joaquina- assim eu chamava a dona da casa, apesar de não ser minha avó verdadeira-. Eram pastéis quentinhos, bolos, bolinhos de chuva, quindins, biscoitos que derretiam na língua...e o refresco gelado servido na varanda da frente, onde a algazarra das crianças obrigava o adulto a falar cada vez mais alto. E ali se ficava, sem pressa, até o escurecer, quando retornávamos à fazenda...
Para casa eu partia cansada , sonolenta, feliz e com a memória cheia de um domingo que fora deliciosamente saboreado por todos os órgãos dos sentidos.
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