A família prosperava. Em maio de 1945, mudamos para o povoado Santo António e papai se estabeleceu no mercado público com comércio varejista. Em curto período de dois anos nosso poder aquisitivo cresceu. Construímos um ponto comercial ao lado de nossa residência e transferimos a loja para lá. Ali se vendia razoavelmente bem: tecidos e seus artefatos, remédios populares, tintas para tingir roupa, óculos de grau e bebidas leves. Naquele tempo nossa família militava ao Partido Social Democrático, PSD, chefiado pelo Cel. Francisco Santos que estava com o governo. Papai não era político, no entanto, por ser casado numa família muito grande, podia arrebanhar muitos eleitores pra algum candidato. Confiando nisso, dirigiu-se a Picos, conversou com o Cel Francisco Santos e conseguiu uma escola pública para o povoado. Cedemos ao Estado uma sala de nossa casa, mesa do professor e banco para os alunos. Minha mãe foi a primeira professora pública contratada pelo Estado.
Em 1947 nosso partido perdeu a eleição pra Governo do Estado e mamãe foi demitida. Veio a crise económica dos anos cinquenta.
O País estava em crise. O Nordeste agonizava. Nossa loja estava repleta de tecidos e outras mercadorias, quando foi decretada a moratória. Muitos comerciantes da região fecharam suas lojas. A nossa também não resistiu. Tivemos que nos desfazer de parte dos bens para pagar aos credores e voltamos a viver de renda das propriedades e do comércio ambulante.
Um dos credores cresceu as vistas sobre a roça de carnaubal. Papai queria entregar. Não era homem de dar prejuízo a ninguém. Mamãe protestou.
"António, você pode entregar tudo, mas a roça do carnaubal não! Não vou deixar meus filhos passarem fome. Entregue a rocinha perto da cidade". Papai acolheu o conselho da esposa e mantivemos o carnaubal.