Em janeiro de 1999 , eu ouvi falar de mais uma lenda curitibana : uma mulher apelidada de Maria Louca que executava sermões nos terminais dos ónibus e fazia uma espécie de streap - tease dentro dos coletivos . Sempre achei o adjetivo louco errado e politicamente incorreto . Pois é uma forma de depreciar as pessoas que fogem de um comportamento trivial .
Em setembro do mesmo ano , eu estava dentro do ónibus da linha Jardim Centauro , quando uma senhora humilde , aparentando quarenta anos entrou no coletivo e exclamou :
- Vocês não prestam !
- Ninguém presta !
- Por isto tirarei a roupa !
Algumas pessoas vaiaram e outras xingaram a pobre com gritos como :
- Sua louca !
- Seu lugar é no hospício !
Outras criaturas incentivavam , erroneamente , a mulher com exclamações no estilo :
- Tira a roupa logo , tira !
Então , indignada , gritei :
- Por favor , parem com isto !
Logo que desocupou um assento na parte de trás , fiz esta senhora sentar e começamos a conversar . Ela disse que passou por muito sofrimento na vida , pois tomaram os seus filhos e foi expulsa do local em que morava .
Com a minha atenção , esta senhora foi se acalmando aos poucos . Com certeza , ela sofria de algum transtorno . Mas o óbvio é que esta pessoa sempre faz confusão nos ónibus por carência , atrás de alguém que lhe escute e lhe dê um pouco de atenção .
Infelizmente , para a maioria das pessoas é fácil julgar quem é diferente e rotular " quem não anda na linha " de louco sem ao menos sequer pesquisar sobre comportamento humano .
Depois daquele dia , nunca vi mais a Maria do Ónibus , mas meus amigos já avistaram esta pessoa , que com certeza faz parte das Lendas Curitibanas . Porém , que mesmo assim , merecia um pouco mais de compreensão por parte da população .
Luciana do Rocio Mallon