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Contos-->É noite na fazenda -- 19/04/2018 - 22:24 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Novamente, o dia é todo amanhecido. Euzébia tange a galinha que bica comida na mesa. ‘Sai trem desgramado, vai quebrar a imagem do santo!' À  tarde, pálidos raios do ocaso tocam suavemente as brancas asas de uma garça no crepúsculo das lembranças. A noite cai. A saudade invade o coração de Corina. Belos tempos em que a juventude lhe sorria, quando em noites de lua clara, a peonada se reunia,  no alpendre da fazenda, para ouvir estórias que Generoso  contava, e as músicas que ele cantava ao som de sua  viola. A mulher do fazendeiro  morria de paixão, ouvindo “Saudade de Mirabela”, que o marido, inventado de cantor, tocava na viola que Zé Coco fazia, com as próprias mãos, e um toco de canivete. Naquele dia,  Generoso Batista  disse aos cafuçus:  ‘Hoje não toco.’ Foi quando Tunico Oliveira se manifestou recitando Ferreira, em pé de verso, guardado na memória desde a mocidade. 

 
Dim dão, Dim dão...
 
João Grilo foi um cristão que nasceu antes do dia,
criou-se sem formosura, mas tinha sabedoria
e morreu antes da hora pelas artes que fazia.
 
Nasceu de sete meses, chorou no bucho da mãe;
quando ela pegou um gato ele gritou: ‘não me arranhe’
não jogue neste animal que talvez você não ganhe.
 
— Atalho o frango nêgo mole!
— Não me interrompa, patrão. Ainda quero trastejar uma cantiga que assuntava pai imitando seu Leandro Gomes do Pombal.
 
Quando cachorro falava, gato falava também
Gato tinha uma bodega como hoje o homem tem
Onde vendia cachaça encostado ao armazém.
 
Com a balança armada para comprar cereais
E na bodega vendia, bacalhau, açúcar e gás
Bolacha, café, manteiga, miudezas  e tudo mais.
 
O peru vendia milho, o porco feijão e farinha
Com um cacho de banana, mais tarde o macaco vinha
Raposa também trazia um garajau de galinha.
 
Guariba vendia escova que fazia do bigode
Urubu vendia goma, porque tem de lavra e pode
A onça suçuarana vendia couro de bode.

 
A meninada ria. Corina aplaudia,  mas, naquela noite, Nhá Santa não serviu café nem chá.

No dia seguinte, mal se pôs o sol, a noite caiu toldando a terra com a negritude de seu manto. O canto do pássaro se cala, a saudade invade a alma e faz morada no coração. O céu, salpicado de estrelas, assemelha-se a uma veste de princesa tecida por mãos de fada. A bicharada, de hábitos noturnos passeia. As horas avançam velozes cavalgando a lua de São Jorge. O rato foge da coruja que pia, e arrepia de medo os pelos da meninada. As pálpebras pesadas  pedem descanso na cama. Tunico Oliveira  se despede e sai.  Demais camaradas também se vão. Os meninos que brincavam de cabra cega na calçada, agora dormem a sono solto, até que nova aurora se levante  no bico da passarada.

— Vai chover, disse Xandão.
— Nessa sequidão medonha, o amigo profetiza chuva para o sertão norte-mineiro? O patrão vai tirar o gado para o Gorutuba. Alugar pasto, salvar o rebanho.

***

Fragmento de "Estrela que o vento soprou."
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 19/04/2018
Código do texto: T6313598 
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