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Contos-->Caverna particular -- 01/05/2018 - 13:42 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos









 



A caverna úmida e sombria, não lhes ofereceu o repouso desejado. Quente e úmida, exalava o  cheiro de fungos nos estercos de morcego. Por certo ali, ela não teria por distração com seu pequeno príncipe mais que a beleza do pôr do sol. 
Levantaram atraídos por uma luz tênue que entrava, acanhadamente, pela grande abertura do primeiro salão. 
— Bom dia! 
— Bom dia! 
— Como me faz bem essa saudação!  
— Esse cumprimento matinal, tão benfazejo caiu em desuno na modernidade. 
— A tradição tem perdido forças na vida do homem moderno. Isso não é bom. Tudo começa com o distanciamento, frieza mórbida: indiferença. Afastamo-nos  do semelhante, e, gradativamente, de nós mesmos. 
— Vamos descer à cata de nosso desjejum. 
— Não sinto fome! 
— Precisas se alimentar. Digo, os dois precisam. 
A maré subiu. 
— O cansaço nos colocou sob o risco de morte. 
— Como assim, Ravenala? 
— A maré...Se a águas bloquearem a porta? Quero dizer, a entrada da caverna. Porta é modo de falar de uma passagem que pode nos levar a um caminho sem volta. 
— Estamos em um ponto algo. A água não chega até aqui. 
— E oxigênio? 
— Há muitas frestas entre as rochas. Tive o cuidado de verificar isso ontem, enquanto tínhamos a luz do dia. 
— Tenho um marido quase perfeito. 
Sorriu docemente, enquanto procuravam alimento. 
— Cuidado com as pedras soltas, disse ela. 
— Passe! Vá em minha frente. 
Não tinham relógio para pontilhar as horas. Mas, pela intensidade do sol e o cansaço que sentiam... Era hora de almoço.  
Gritos ensurdecedores ressoaram na mata. Macacos fugiam assustados, um porém, audacioso, manteve-se quieto, degustando uma fruta vermelha, de agradável sabor aos olhos. 
— Se macaco come, também podemos comer. Façamos a festa. 
— Pode ter certeza, vou comer por mim e por Robert. 
Ravenala não quis mais se referir ao filho chamando-o de Bob. Percebera que Daniel...Bem. Nunca se sabe! O Coração do homem é mistério insondável. 
Daquele ponto, a vista panorâmica revelava os mimos de Deus. Lá em baixo, o mar azul da cor do céu e no platô, a exuberante natureza oferece alimento em abundância. Exploraram a mata, banharam-se numa lagoa de água límpida e cristalina. 
Mar, doce mar! Tão azul quando os olhos de Morgana. — Pensou. 
— Os olhos de Morgana são verdes, Dan! 
— Agora sondas meu pensamento? 
— Sexto sentido, meu amor! Não minta!  
— Sim, o mar me traz recordações: boas e más. 
— Em qual delas se situa Morgana? 
— No azul infinito do mar: perto de meus olhos e longe do coração. 
— São verdes os olhos da Morga. 
— A cor não faz diferença. O brilho sim, transmite energia. Teus olhos sempre serão estrelas a guiar meus passos. 
— Obrigada. Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada — Bem gostaria de ter dito isso, antes de Freud. 
— Disseste depois. Vale o mesmo: Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio. 
Ravenala uniu as mãos em concha, apanhou água doce e deixou escorrer lentamente sobre barriga. — ‘Deus te abençoes, meu pequeno príncipeTe amo muito.’ 
O bebê se mexeu. Emocionada, ela chorou e sentiu que as lágrimas lavavam  sua alma, animando também aquele ser tão pequeno, guardado em suas entranhas há meses. E desculpou-se por não saber  o dia exato da concepção. Tentou explicar, até mesmo como forma de aliviar o próprio sentimento de culpa: ‘Os náufragos perdem a noção do tempo. 
 Daniel a observava a meia distância. E volta a dialogar com sua mente: ‘Nem ao menos tentei desvendar os mistérios do coração de Morgana. Convivi com ela e não a conheci. Pode-se amar aquilo que não se conhece?’ E se perguntava: ‘Por que não tive intimidade com a Morga? Para ele, ela fora sempre Morgana, a filha de um bicheiro rico. E, mesmo casado com ela, nunca fez parte de sua vida.  Talvez o dinheiro...o dinheiro mal ganhado do pai de Morgana tenha sido a barreira que ele nunca superou — ‘Que culpa têm os filhos pelos crimes de seus pais? Quem chupa uva verde é que fica com os dentes desbotados.’ 
Enquanto pensava, Daniel tecia palhas de uma palmeira cujo nome ele não sabia. 
Ravenala saiu da água. 
— Que é isso? parece uma sacola! 
— Falta ainda atar a uma vara. Espere só eu terminar. Talvez dispense explicação. 
— Vais caçar borboleta, Daniel? Nada além de frutas comemos hoje, e tu vais caçar borboletas?... 
— Nada disso, bobinha! Vou capturar peixes. O segundo salão tem mais de cem deles. 
— Nunca! Contei todos.  
— São 153 peixes cada um de espécie diferente.  
—  Deve ser a futura arca de Noé. 
— Estás delirando? Noé construiu sua arca e pôs nela animais terrestres. Não precisou preservar os que vivem na água, afinal, foram quarenta dias e quarenta noite de chuva.  
— Exatamente por isso. Não haverá mais dilúvio. Aquele salão contendo diferentes espécies de peixes é a próxima arca de Noé, para salvar os animais aquáticos do fogo. Não reparaste como a temperatura da caverna... 
— Sei não! Melhor juntarmos gravetos para fazer fogo. 
— Aqui em cima? 
— Não, vamos descer. 
— Então juntemos lenha lá. Não aqui! 
— Foi isso que eu quis dizer. 

*** 


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Adalberto Lima, fragmento de Estrela que o vento soprou. 
Imagem: Internet








Adalberto Lima






Enviado por Adalberto Lima em 01/05/2018

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