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Contos-->O fim -- 17/07/2019 - 09:19 (Pedro Carlos de Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Fim

Não se assustem, é só um conto.

 

                                                            

            O fim do mundo havia sido decretado. Não propriamente do mundo, que já estava condenado, mas das gerações futuras. Na impossibilidade de salvar o mundo da deterioração lenta e gradual, uma ampla discussão mundial aconteceu e os povos decidiram suspender de forma total a geração de novos seres humanos. O mundo ainda continuaria por muito tempo, mas inóspito e inabitado.

            Gabriel havia nascido no ano 2018. O aquecimento global já fazia sentir seus efeitos, nada obstante as ações concretas que já vinham sendo executadas desde o ano 2000. Agora, Gabriel estava com 35 anos e tinha um filho, Miguel, com 5 anos. E seria o último. E ele não poderia ter filhos. Gabriel jamais seria avô.

            Gabriel morava com sua esposa Natália e seu filho Miguel na cidade de Florianópolis. O mar já tomara conta de várias praias da Ilha de Santa Catarina. Provavelmente teriam que abandonar a cidade dentro de alguns anos. A expectativa de vida neste ano de 2053 era de cerca de 100 anos. Gabriel teria em torno de 65 anos para viver e Miguel, 95. Isto significava que, por volta do ano 2150, o mundo estaria sendo definitivamente abandonado. As condições de vida na fase final já estariam muito precárias.

            O Estado teve que intervir fortemente na economia, pois os investidores perderam o interesse empresarial. Quem tinha dinheiro queria aproveitá-lo. Quem não tinha passou a trabalhar para o Estado, para prover a sua subsistência.

            À medida que o tempo foi passando, a população foi diminuindo, casas deixaram de ser habitadas, nada novo era criado, a manutenção das coisas, das casas, dos utensílios, dos carros era precária.

            Corria o ano de 2088. Gabriel já estava com 70 anos e mudara para Brasília, com Natália e Miguel, há cinco anos. Trabalhava como enfermeiro num hospital público, dando alento aos mais idosos que estavam deixando a vida na Terra. Miguel estava com 40 anos e trabalhava num centro de distribuição de alimentos de propriedade do Estado. Miguel trabalhava somente pelo direito à comida de sua família.

            A população mundial já caíra quase pela metade da que existia em 2053. Além de não haver mais nascimentos, o índice de mortalidade aumentou, ocasionado pela maior frequência dos desastres naturais, como enchentes, ondas de calor, volume incomum de neve, tempestades, terremotos e furacões e pelas doenças derivadas da degradação do meio ambiente. Como não havia mais necessidade de deixar o mundo para novas gerações, as pessoas não se importavam mais com o meio ambiente. Florestas foram devastadas, rios e lagos foram poluídos e o ar estava irrespirável, por conta do efeito estufa.

            Miguel havia se casado com Branca. Como todos os outros casais do mundo, estavam conformados em não ter filhos. Quem iria querer ter filhos num planeta degradado como a Terra? Quem teria coragem de colocar no mundo um filho para viver numa terra devastada, consumida, com o meio ambiente fora de controle?

            As condições foram piorando assustadoramente. Faltava água potável, rios secaram, calor e frio se alternavam de forma imprevisível, chuvas torrenciais seguidas de secas persistentes. Era o ano de 2130. Miguel, então com 82 anos (o único ainda vivo da família), junto com outros poucos habitantes do mundo, enfrentavam seus últimos anos de vida. O mundo não chegaria com vida humana ao ano de 2150, como era a expectativa antes da degeneração.

            No ano 2140, Miguel, agora com 92 anos, solitário na sua região e no mundo, deixou de existir. E com ele, a espécie humana. O sol continuaria a nascer e a se pôr... mas, para ninguém. A Terra, inabitada, continuaria sua trajetória inexorável, girando ao redor do Sol, por bilhões de anos, até sua explosão final.

 

 

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