Presa
maria da graça almeida
Fecho meus olhos com tua figura,
envolvo e revelo tua paisagem,
pois hoje não há maior desventura
do que me privar de tua imagem.
Selo minha boca, encarcero teu rosto,
trinco os dentes com garra e vontade,
quando te laço, com afã ou desgosto,
exponho na face a versão da ansiedade.
Ato meus braços com nós invisíveis
e neles tua alma, na íntegra, prendo.
Os meus sentimentos que são indizíveis
colam a ti tais quais velhos remendos.
Estranho torpor invade-me o corpo,
um intenso rubor pincela-me a face,
por fora, sou vivo, por dentro, um morto
com o peito envolto na dor do disfarce.
maria da graça almeida
todos os direitos reservados
|