A GRANDE DÚVIDA
Paccelli M. Zahler
Luizão era o cara mais macho das redondezas. Traçava todas! Segundo ele, nenhuma mulher resistia ao prazer proporcionado pelo seu “adocicado” membro viril. Era provas, gostar, relaxar e gozar! Ele era o fodão! E as mulheres sempre o procuravam para repetir a “dose” pois, como se diz: “Amor de pica, quando bate, fica!”
Suas proezas não se restringiam ao campo sexual. Era capaz de pegar touro a unha, abrir garrafa com os dentes, matar cascavel com as mãos – “coisa pra macho!”, dizia.
Tinha, contudo, um grande defeito – gostava de beber. E, quando isso acontecia, perdia a consciência dos seus atos. Aí, tudo era válido!
Um dia, ao recobrar a consciência, depois de uma bebedeira daquelas, assustou-se. Estava nu, de bruços, e com algo pegajoso na bunda. Intrigou-se. “Será que me comeram?”, perguntou-se. Apalpou-se, tudo parecia estar no seu devido lugar. “Eles não ousariam, me conhecem!”, conformava-se. Tomando um banho frio, verificou tratar-se de espuma de sabão. Com certeza, teria ido ao banheiro, lavado o “ceguinho” no bidê e não tirara direito o sabão.
Em outra bebedeira, acordou com uma bolsa de gelo recobrindo a bunda. “Êpa, alguém deve estar fazendo alguma brincadeira comigo! Tá certo que roscofe de bêbado não tem dono, mesmo assim não acredito que tenham ousado tanto. Eles me conhecem, sabem que sou violento. Eu trucido quem tentou! Este “ceguinho” é de macho!”, sentenciou.
Passou algum tempo controlando-se para não beber. Olhava desconfiado para seus amigos. Será que havia sido comido? Sua desconfiança aumentava quando dois ou três amigos cochichavam, riam, mas não lhe participavam do assunto. “Teria sido comido por eles? Alguém havia testemunhado o fato?”, conjecturava.
Em um sábado, teve uma feijoada na casa da Dona Maroca. Era caipirinha, pimenta malagueta, torresmo, carne de porco, mais caipirinha e, não deu outra, mais um porre.
Acordou pelado, de bruços, e com uma ardenciazinha no “ceguinho”. Agora não tinha mais dúvidas – alguém o comera! E ele iria descobrir o filho-da-puta que havia se aproveitado dele enquanto dormia.
Vestiu-se, dirigiu-se até a roda de samba no quintal disposto a dirimir suas dúvidas e armar o maior fuzuê, mesmo que perdesse todas as amizades.
Logo de sua chegada, todos desataram a maior gargalhada. Era a prova de que precisava! Fotos polaróides passavam de mão em mão. “Filhos-da-puta!”, pensou. Como ficaria a sua reputação de macho se haviam documentado o fato?
Sem dizer uma palavra, recolheu abruptamente o conjunto de fotos das mãos de um amigo. De fato, eram fotos suas. Primeiro, fazendo um discurso; depois, um “strip-tease”; uma dor de barriga; correndo para o mato; limpando-se com urtiga; tomando um banho; deitando-se pelado e de bruços no quarto.
“Ah, bom!”, respirou aliviado.
Desse dia em diante, nunca mais pôs uma gota de álcool na boca. Só refrigerante. “Tá louco, e se minha desconfiança se transformasse em certeza?”, remoía.
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