O fundamentalismo islâmico estrutura-se em torno da antiga noção da umma – a comunidade dos fiéis unidos pela obediência ao Corão. A umma representou o vetor da expansão medieval muçulmana na Ásia Meridional e Central, Norte da África e Sul da Europa. O advento do nacionalismo contemporâneo dissolveu a umma, instalando os Estados territorialmente delimitados.
As divisões dentro da Umma se iniciaram com a sucessão do Profeta (Maomé). Rupturas essas originadas, sobretudo, a partir de diferentes conceitos a respeito da natureza da comunidade e de suas lideranças. A mais marcante dessas rupturas começa no final do século VII e divide definitivamente a comunidade muçulmana em seus dois principais ramos: sunitas e xiitas.
A maciça maioria dos muçulmanos é sunita e forma o corpo ortodoxo do Islã, compondo aproximadamente 85% do mundo muçulmano atualmente. Os xiitas formam uma minoria significante que totaliza aproximadamente 15% desse universo.
Os xiitas diferem dos sunitas em crença e prática. Suas diferenças referem-se, principalmente, aos modos de liderança e devoção. Embora o Islã tenha unido vários povos sob a mesma bandeira, as diferenças tradicionais e culturais permaneceram fortes e apareceram no momento de escolher os sucessores do Profeta. A principal diferença entre xiitas e sunitas reside nas doutrinas do imamato e do califado. Para os sunitas o califa é tanto um líder religioso, quanto político, o que não significa que ele seja visto como um sucessor da autoridade religiosa do Profeta. Sua liderança religiosa está relacionada ao seu dever de proteger a religião e a lei islâmicas. Já no caso dos xiitas, o líder não incorpora a liderança temporal. Enquanto o califa é um homem comum que precisa preencher alguns requisitos morais e éticos para ocupar essa posição, o imã xiita, apesar de não ser um profeta, é divinamente inspirado, sem pecado, infalível, a autoridade máxima para interpretar a vontade de Deus. Ele deve ser descendente direto do Profeta e de Ali (genro e primo de Muhammad). Infere-se daí, que a legitimidade do imã xiita não está baseada somente na interpretação e proteção da lei divina, mas na sua descendência e inspiração divina.
Para os sunitas, o sucesso do Islã nos tempos áureos é uma recompensa e sinal de aprovação de Deus. Para os xiitas, a história revela opressão e injustiça a uma minoria que deseja restaurar as regras de Deus sob a liderança da autoridade legítima, o imã, desejo frustrado pelos califas sunitas e pelos próprios desacordos entre os xiitas, que conduziram a outras secessões, dando origem aos zayds, ismaelitas e duodécimos, os quais por sua vez, também estão subdivididos em inúmeros subgrupos. Mas as diferenças históricas e religiosas não ocultam os amplos traços de acordo entre xiitas e sunitas. Ambos os grupos assumem o Corão como texto sagrado e Muhammad como o último profeta. Mas os xiitas têm a sua própria versão da lei islâmica e sua própria teologia.