Nós também estamos aqui na qualidade de aluno aplicado ao estudo do socorrismo intelectual e emocional. Se não temos os mesmos atributos do irmão que nos precedeu, o caríssimo colega de turma, Heitor, pelo menos iremos tentar demonstrar alguma desenvoltura, já que o treinamento é muito intenso junto aos colegas que se prestam a colaborar conosco na qualidade de escreventes, na representação “teatral” em que ensaiamos para poder depois participar dos trabalhos.
Da mesma forma que observou Heitor, nós também podemos verificar que a caneta desliza bem celeremente, mas, é claro, de forma própria, pois os impulsos que estamos imprimindo ao braço e à mente do médium têm comprimento de onda bem diferente, embora atinjam da mesma forma o centro nervoso, do qual emanam as ordens elétricas que desencadeiam todo o processo da mentalização das palavras até à escrita.
Este processo, para nós, iniciantes na arte da mediunização, é novo e extremamente interessante, despertando-nos o desejo de prosseguir estudando neste campo específico da imantação.
É curioso notar que o irmãozinho escrevente está preocupando-se com a disposição pela qual as letras estão esparramando-se, formando caligrafia bem diferente da que apresentou o antecessor. De nossa parte, o que nos impressiona é a preocupação do escrevente com o fato de que a terminologia esteja perfeitamente adequada a este tipo de mensagem, procurando não determinar outros vocábulos, senão os que melhor se ajustem a cada frase, a cada nova situação textual. Não sabíamos que isto era possível.
Estão a nos informar que tal fato ocorre por se tratar de mediunidade consciente, de forma que pode o instrumento suspender o trabalho no momento que assim resolver.
Queremos observar, para delongar um pouco mais o glorioso momento deste primeiro exercício real, que não é difícil imprimir novos rumos ao que devemos escrever, mas que é extremamente complicado fazê-lo, porque fugiria do texto aprovado e temos, a cada instante, de receber o assentimento de nossos instrutores, que se guiam, por suas vez, pelo contacto direto que mantêm com os mentores, os quais não se encontram presentes neste ambiente. Por exemplo, fazer referência a este fato foi possível, mas avançar nas explicações técnicas a respeito está sendo interditado.
Vamos inserir na mensagem prece que o grupo elaborou para situações como esta, em que pela vez primeira conseguimos transmitir com sucesso. Se o irmão quiser acompanhar-nos, principiemos.
Senhor Jesus, nosso mestre e nosso guia. Vós sois para nós o símbolo maior da figura do médium divino, pois vos foi dado o direito, mercê de excelsas qualidades, de ouvir o Pai e dele receber diretamente a sua misericórdia. Não vos afasteis de nós, pobres e ignorantes discípulos da “Escolinha de Evangelização”, neste momento em que empreendemos o primeiro contacto com a realidade tangível dos habitantes da crosta. Fazei de nós vossos servos e possibilitai-nos estar serenos, para que o trabalho se realize de molde a nos oferecer a segurança necessária para prosseguirmos engajados na “Ordem dos Medianeiros”, a instituição superior a quem cabe preparar os mensageiros do socorro divino. Por esta luz que nos ilumina, sabei que estamos muito felizes por ter podido atingir este estágio de desenvolvimento e recebei os agradecimentos mais comovidos, bem como a certeza de que preparamos o coração convenientemente para aceitar a participação que nos cabe nas tarefas do socorrismo evangélico.
Graças a Deus, pudemos atender aos princípios da imantação e ganhar a confiança dos mestres para oferecer-nos ao trabalho. Tal como o colega Heitor, estamos deveras felizes por termos podido chegar ao fim da tarefa, crentes de que possuímos alguns atributos indispensáveis para o trabalho. Queremos agradecer a atenção do amigo e com ele ouvir os conselhos dos orientadores.
COMENTÁRIO — MANUEL
Quem está feliz somos nós, por termos sido gratamente surpreendidos pela desenvoltura com que Heitor e Ernesto se prestaram ao trabalho, podendo, desde já, afirmar que ambos têm condições de receber o primeiro diplominha da escola de pré-primário. Riem da facécia e fazem sinal de que entenderam a referência que se encerra na observação de que devem dedicar-se com muita abnegação ao trabalho, a fim de desenvolver outros aspectos importantes, para que venham a julgar-se aptos para o socorrismo.
Parece que o que mais estava interessando a ambos era a parte técnica, o conhecimento prático da mediunidade. Dizem que foram engenheiros na última encarnação e que trabalhavam juntos, tendo desencarnado no mesmo momento, em desastre aviatório, quando em serviço de sua companhia.
Isto explica a psique voltada para a fenomenologia “física” da imantação do aparelho, muito mais empenhadamente do que para os conceitos morais que, de resto, absorveram com facilidade e puderam demonstrar, sem que apresentassem qualquer titubeio. Por isso, ficamos agradavelmente surpreendidos e vamos organizar roteiro de tarefas de que irão participar na qualidade de obreiros do Senhor, para oferecerem seus préstimos junto a esta equipe de socorristas, pois é extenso o trabalho e não podemos dispensar nenhum colaborador.
Se algum leitor também se dispuser a nos auxiliar, basta que procure contatar conosco, se tiver, é claro, um pouco desenvolvida a capacidade de recepção das mensagens mediúnicas. Tal deverá ser feito nos centros espíritas, se a mediunidade não for psicográfica. Caso tema o companheiro encarnado, não se atreva, pois qualquer vibração contrária pode prejudicar os trabalhos, atraindo entidades que só fariam perturbar o ambiente. Mas se houver segurança e boa vontade, podem ajudar-nos, que trabalho não há de faltar.
Aproveitamos o ensejo para a exortação, pois ficamos entusiasmados com o desempenho dos dois novos companheiros. Queira, querido médium, receber o nosso agradecimento e fique ciente de que, sem sua colaboração prestimosa, não teria sido possível o encaminhamento dos trabalhos em plena paz.
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