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Artigos-->165. A HISTÓRIA DE JONATHAN — ANITA -- 03/04/2003 - 06:49 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Eram cinco da tarde. Jonathan acreditava que, dentro em breve, chegaria à cidade natal para rever os pais. Havia muito tempo que partira e, durante sua estada nas camadas menos densas, não tivera nenhuma informação dos velhos. Partira muito jovem. Voltava na flor da idade, pois, se tivesse permanecido na carne, teria as faces marcadas pelas primeiras rugas e os ralos cabelos estariam esmaecidos.



Não se importava com o fato de ter partido, mas preocupava-se com o estado mental dos progenitores, que deveriam ter ultrapassado a casa dos sessenta anos há bastante tempo. Como não tivera notícias, ansiava pelo que poderia encontrar.



Em caminho, viera imaginando a recepção que teria. Os pais o abraçariam comovidos à simples menção da volta ao lar do filho querido, que partira tão inesperadamente, pois se deixara arrastar pela correnteza do rio em que se banhava, havendo necessidade de buscas constantes, por vários dias, até que o corpo bem deteriorado fosse encontrado. Na hora, não percebeu qual foi a reação dos pais, mas imaginava que, depois de sofrimento de grande intensidade inicial, a dor se teria transformado em saudade, em distante desejo de reencontro, em expectativa de nova união feliz, após o desenlace, que fatalmente não demoraria para ocorrer.



Foi com esses pensamentos que adentrou na cidadezinha. Primeira surpresa: não havia cidadezinha; a força do progresso se apresentava por todo lado, de sorte que, do que havia antes, pouco restava, pois as ruas tinham o brilho novo das luzes elétricas; as casas comerciais, pisca-piscando, anunciavam os produtos em grandes painéis luminosos.



Extasiou-se diante das mudanças e pôs-se a caminho de casa. Esta sim, pensava, estaria igualzinha, mais velha, mas bem cuidadinha, como era do hábito do pai, que gostava de tudo bem dentro dos “conformes”.



Ao chegar à rua, teve um susto. Seria aquele o logradouro procurado? Como explicar tantas modificações? Os números tinham sido alterados e o lugar reservado para o 582 se encontrava ocupado por alto prédio de apartamentos. Buscou localizar a casinha, através de edifícios conhecidos. A custo, reconheceu na praça adiante uma igrejinha. Não era a mesma de sua época, mas ocupava o mesmo espaço, cercada de jardim maravilhoso, com muitas flores e totalmente rodeado por frondosas árvores. Reconheceu algumas e pôde configurar a distância possível de sua casa.



Retrocedeu cauteloso e, passo a passo, pôs-se diante de outro edifício de apartamentos, certamente ocupando o lugar em que a sua casa se situava, com seu largo quintal, quase uma chácara dentro do quarteirão. Sentou-se no beiral da calçada, defronte do imponente edifício, e pôs-se a matutar em como encontraria os pais.



Não demorou, passou por ali velhinho desencarnado, que se pôs a conversar, identificando-se logo como o farmacêutico (com ph, como ele queria que se escrevesse), que morava a poucas quadras dali ao tempo de seu passamento. Reconheceram-se e abraçaram-se efusivamente, pois as famílias de ambos eram muito chegadas.



Como não poderia deixar de ser, o nosso amigo, ansiado, pôs-se a interrogar o companheiro sobre inúmeros acontecimentos, deixando para o fim, temeroso, as notícias sobre seus parentes. O ancião não se fez de rogado e desfiou longa ladainha de informações, até que, momento propício, informou que os pais de seu interlocutor estavam bem vivos e residiam ali mesmo, em um dos apartamentos do prédio, exercendo o pai as funções de síndico, apesar do avançado da idade.



O dileto confrade ficou exultante. Muito agradeceu ao bondoso velhinho e imediatamente saiu em busca do esperado feliz reencontro. Buscou andar por andar, até que se deparou diante do apartamento certo; era o 313, número cabalístico, que o deixou preocupado. Não arrefeceu o ânimo, entretanto, e pôs-se a sonhar de olhos bem abertos.



A mãe, àquela hora, estaria deitada ou fazendo crochê, enquanto o pai, como era de seu costume, estaria consertando alguma peça quebrada. Timidamente, invocou os protetores para que lhe dessem coragem e ultrapassou o umbral da porta, adentrando na sala modesta, que ostentava alguns quadros e outros tantos retratos de pessoas, dentre os quais se destacava a figura de um adolescente, jovenzinho magro e enfezado, cheio de sardas, que as manchas amarelecidas mais sublinhavam. Sorriu, enquanto lágrimas furtivas lhe corriam pela face. Mas o cômodo estava vazio.



Buscou encontrar alguém na cozinha e, realmente, lá estava velhinha bem encarquilhada, figura vagamente reconhecível como parente próxima. Lembrou-se imediatamente de sua avó Dolores, que deixara sua companhia para ir residir em outra cidade, quando era pequeno e a quem visitara diversas vezes. Ia chamá-la pelo nome quando percebeu, bordado no avental, o nome da mãe, Maria.



Ficou estupefacto. Como é que não se lembrara de colocar, naquela feição amadurecida de suas recordações, os estragos que o tempo costuma deixar como marcas na epiderme humana?! Forcejou por manter-se calmo e inquiriu da mãezinha se estava pressentindo sua presença. Como resposta, obteve longo bocejo, informação segura de que logo iria procurar acomodar-se para dormir.



“É claro”, pensou ele, “ao dormir se desprende do corpo físico e aí, livremente, poderemos conversar. Enquanto isso, deixa procurar meu pai, mas de sobreaviso para não enxergar nele a figura de meu avô.”



Nisto adentra o ambiente o “avô”, realmente. Era a figura exata, calcada, moldada na mesma forma. Mas, prevenido, preferiu confirmar e, deveras, era o pai, que tinha a face bem encovada e a testa bem mais proeminente. As orelhas e o nariz destacavam-se do conjunto, sinal evidente de que os anos tinham passado longamente por aquela vida.



Não suportou o encontro com o casal e pôs-se a chorar, copiosamente. Chorou pranto de muita emoção e só pôde restabelecer-se muito tempo depois, quando reparou que estava sozinho. Os pais haviam buscado o leito reconfortante da faina diária e estavam entregues ao sono restaurador das energias despendidas durante a labuta do dia.



Não hesitou e buscou entrar em contacto com os espíritos, que deveriam estar vagando pelos arredores. Como era novo nesse tipo de reconhecimento, achou de bom alvitre consultar os orientadores, que, de pronto, lhe indicaram o lugar mais plausível para procurá-los.



Pôs-se a caminho. Foi andando, andando, até que se afastou da última linha de casas da cidade, penetrando longamente no campo, indo parar nas cercanias de ponte que conduzia a estrada para fora do município, em busca das terras distantes da cidade vizinha.



Quando ia cruzar o local, deparou-se com dois velhinhos bem debaixo da ponte, ajoelhados e abraçados, como se cada qual estivesse a amparar o outro. Logo reconheceu os pais, pois, em espírito, tinham rejuvenescido vinte anos. E antes que tivesse compreendido exatamente o que se passava, notou que sua presença havia perturbado a ambos, que, ao voltarem-se, deram com a vista de chofre no filho, ficando paralisados pela emoção. Não havia dúvida; finalmente tinham podido realizar o sonho longamente acalentado.



Não hesitaram e se lançaram nos braços uns dos outros, crentes de que essa seria união indestrutível.



— Que faziam vocês aqui, tão longe de casa?, perguntou, assim que a serenidade deixou que sua mente tomasse conta de sua personalidade.



— Então, você não sabe onde foi encontrado o cadáver daquele que um dia foi nosso filho? Aqui estivemos todas as noites, aguardando a sua volta, pois sabíamos que, se para cá viéssemos insistentemente, um dia as nossas preces seriam ouvidas e obteríamos a graça de recebê-lo de volta para junto de nós, restabelecendo a alegria de nossa casa. Já estamos bem alquebrados pela idade, mas são os nossos corpos que sofrem a desdita do tempo. Nós, em espírito, somos jovens, da eternidade da juventude, e os corações nos batem no ritmo exato do momento em que você chegou para partilhar das alegrias e aflições de toda a casa.



Tendo feito a longa digressão, a mãezinha querida pôs-se a orar comovida prece de agradecimento, no que foi acompanhada pelo respeitoso silêncio dos dois companheiros.



Mais tarde, quando amanheceu o dia, era chegada a hora da despedida, que foi um tal de prometer isto e mais aquilo, efusivamente, sob a influenciação da mais profunda felicidade. Um instante e separaram-se, pois era chegada a hora do despertar. Jonathan foi com eles até a casa e pôde ouvir o diálogo que se seguiu, logo após o despertar da letargia do sono. Disse o pai:



— Querida, hoje sonhei com o Jonathan. Parecia que vinha até nós com longa veste branca. Estava como no dia de sua primeira comunhão, só que bem mais velho. Será que é alguma notícia do Além?



— Curioso, respondeu a mãe, eu também sonhei com ele, mas foi pesadelo muito ruim, pois era como se fosse no dia de sua morte. Chorei como uma desesperada e ainda estou soluçando. Vou acender mais algumas velas na igreja e rogar a Deus que reserve lugarzinho no céu para meu querido filhinho. Deus me livre de ter de novo o mesmo sonho!



Jonathan ficou desarvorado. Como é que, durante a vigília, poderia estar a mesma visão obtida durante o sono refletindo tão diferentemente para um e outro?! Pôs-se a meditar e não achou explicação plausível.



De volta ao retiro que habitava desde o momento em que foi dado como apto para o prosseguimento de sua existência em serviço, procurou um dos professores da “Escolinha de Evangelização”, que freqüentava há algum tempo, para ouvir as explicações necessárias, para que pudesse compreender a misteriosa reação da mãe. Após ouvir atentamente o relato do discípulo, pôs-se o orientador a explicar:



“Você pôde confrontar duas atitudes bem distintas de uma mesma pessoa. Quanto ao seu pai, pareceu-lhe haver maior conformidade, pois do sonho, ele se lembrava perfeitamente da figura do filho, que relacionou com o menino feliz que você era e cuja felicidade era o seu apanágio de vida. Relembrá-lo foi buscar, no passado, o momento de melhor realização de sua vida: a concretização no filho do seu amor conjugal. Quanto à sua mãe, aflorou-lhe à lembrança o momento de sua perda, o instante dramático de sua vida, pois relacionou a sua morte à sua vida, unindo tudo em um só fato de extraordinária tristeza. Para ela, a visão noturna despertou a saudade, a amargura da perda, o sofrimento e a dor da desgraça. Essa associação, de fato, se passa no campo da consciência, enquanto parte integrante do conjunto psíquico que todo encarnado carrega dentro de si. Durante o sono, seu espírito se desprendeu desses liames mais densos para sair em liberdade, de forma que pôde compreender, em estado de espírito, de modo inequívoco, tudo o que ocorrera. Por isso orou comovida, agradecendo o seu retorno para refazimento da felicidade, que era o sentido superior de sua vida: procriar para permitir a entidade muito querida que pudesse usufruir os momentos do encarne para progredir rumo ao reino do Senhor. Se, durante a vigília, não manteve o mesmo ânimo, foi porque de há muito vem deixando-se influenciar pelas idéias de céu e de inferno, que a religião que abraçou e onde buscou conforto para mitigar o sofrimento, lhe incutiu no fundo da alma, fazendo-a crer em que o correto é rezar para obter o perdão dos pecados e fazer jus às recompensas prometidas. Mas este é fato exclusivamente exterior, pois o que vale é o amor que lhe dedica, é o bem que faz junto à família e à comunidade que freqüenta. Tais méritos são inalienáveis e vão ficar com ela para sempre.



“Não se deixe surpreender, meu jovem, pelas aparências. Busque concentrar seus pensamentos em que a misericórdia divina é infinita e que Deus é pai e tudo irá prover para unir o que estiver disperso, para prender o que estiver dividido, para soldar definitivamente tudo o que foi, um dia, fracionado. Não vá aduzir pensamentos de maldade onde só há amor. Se seus pais não são perfeitos conhecedores da situação, foi porque não se dedicaram, durante sua longa vida, a perscrutar o mistério, como sói acontecer a quantos se dedicam ao estudo do espiritismo fundamentado nas obras kardecistas. No entanto, como procedem em harmonia com as leis de Deus, têm méritos que muitos estudiosos do espiritismo estão longe de terem conseguido. Por isso, cabe a você preparar os velhinhos para aceitarem pacificamente, com o coração leve, a hora da morte, que, de certo, será mais onerosa para o que vier para cá em segundo lugar, dada a lembrança dilacerante da morte do filho querido. Neste caso, despertar-lhes a consciência física para a certeza do reencontro é fazê-los ter do momento do desencarne salutar expectativa. Lembre-se de que um instante final de hesitação pode representar trânsito muito mais doloroso, muito mais angustiante. Veja se consegue incutir-lhes na mente que a verdadeira vida se situa fora do plano terreno, que você, certamente, obterá êxito na missão.



“Vá em paz, irmãozinho, e não tema, pois a seu lado ficaremos todos nós, amigos e orientadores, para resguardar o seu trabalho da influenciação malévola de certos elementos estranhos que se aproveitam desses momentos de transe para perturbar o ambiente. Volte aos estudos e busque acompanhar outros colegas encarregados do mesmo mister, para absorver com mais intensidade os conhecimentos necessários para cumprimento cabal do serviço, para eficaz e qualificado desempenho. Enquanto isso, ore muito, para que as luzes não lhe faltem, lembrando-se de que Deus possui a infinita sabedoria e que saberá dar-lhe o amparo correto, no momento exato.”



Assim se expressou o professor, tendo Jonathan retornado ao lar paterno para cumprir os seus desígnios. Não é preciso dizer que hoje, decorrido algum tempo do desenlace da mãe, se encontram os três seres reunidos no plano da espiritualidade, buscando cumprir, plenos de amor e felicidade, suas tarefas, junto a grupo socorrista que assiste a pais cujos filhos desertaram pequenos do convívio familiar.



Esta história é absolutamente verdadeira e foi trazida ao conhecimento do leitor para que medite a respeito de algumas noções elementares da vida e da morte.







Graças a Deus! Esperamos ter obtido êxito nesta missão, que foi o nosso primeiro atrevimento. Não foi difícil influenciar o médium, pois já o fizemos por diversas vezes, transmitindo mensagens orais. Este primeiro cometimento escrito ficou, por isso, enormemente facilitado. Vamos encerrar a nossa participação, pedindo desculparem-nos por ocupar tão longamente esta pena tão gentil e tão prometedora de serviços e trabalhos cada vez mais intensos, neste lindo campo da mediunidade escrita.









COMENTÁRIO — HOMERO



Nem era preciso dizer. Anita elaborou texto privilegiado. Utilizando-se da metáfora do conto, colocou vida em sua mensagem, buscando transmitir alguns conceitos muito profundos, de forma a abrir a mente ao leitor para aspectos novos de como encarar a doutrina.



Sabemos de antemão que a novel escritora possui obras editadas e, por isso, falece-nos competência para julgar dos méritos pessoais que se incrustaram em sua linguagem fluente e elegante. Claro está que não buscou preciosismos literários nem o tema comportava, pois, como todos sabemos, a forma deve moldar-se rigorosamente ao fundo e, neste caso específico, a linguagem tem de se adequar ao tema e à disposição peculiar do conto. Não se trata, pois, de noviça que buscasse encetar viagem por águas desconhecidas, mas de seguro timoneiro que cumpre seu roteiro, segundo conhecimento superior da arte de navegar.



Quanto aos ensinamentos, temos a observar que, se se tivesse estabelecido diálogo entre aluno e professor, poderiam ser aventados outros aspectos relativos ao assunto tratado, o que (confessamos que concordamos com a observação subjacente ao final da mensagem) o que teria feito o texto ir muito além dos limites da capacidade do recebedor, durante uma única sessão. Nada impediria, no entanto, que a jovem artesã das letras voltasse por diversas vezes, prosseguindo em capítulos a história da família de Jonathan, cobrindo-se cada uma das fases do trabalho específico a que se dedicou até o desenlace de cada um dos parentes. Se esta idéia não está nos planos da amiga, que fique como sugestão.



Permitam-nos não elaborar em erro, tentando categorizar o trabalho como se fora de algum iniciante que, às vezes prematuramente, se oferece para a escrita. Trata-se de obra amadurecida de mentalidade reflexiva, que, por certo, voltará a colaborar conosco, pois temos certeza de que tem outras pérolas preparadinhas para comporem as jóias com que se irá adornar, ao apresentar-se aos círculos superiores.



Queira, irmãzinha, perdoar-nos os atrevimentos no campo da linguagem figurada e aceite prosseguir conosco nos trabalhos socorristas. Elevemos, agradecidos, os corações a Deus, que, sem sua infinita misericórdia, não poderíamos usufruir estes momentos de tanta alegria e prazer.



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