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Artigos-->166. NA IDADE MÉDIA — EMANUEL -- 04/04/2003 - 06:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Também eu estou aqui para trazer a todos vós palavra de amor, de afeto, de benquerença. Não reflitais a respeito dos descaminhos, mas procurai pautar vossos procedimentos pela figura gloriosa de Jesus, nosso mestre maior. Não fiqueis arrependidos de postergar decisões importantes no campo material, mas buscai atender aos reclamos evangélicos. No mais, mantende o coração cheio de esperança de poderdes compor versos de hosanas ao Senhor, para serem cantados ao som da lira palaciana, como nos primórdios da Média Idade, quando menestréis de vozes apuradíssimas percorriam os castelos para encantar os senhores feudais, os suseranos e, às vezes, até mesmo a gente plebéia, que se avolumava nas praças para ouvir as endechas mais ternas do amor pagão, bem como as mais mordazes sátiras, quanto às figuras preeminentes mais destacadas no que se referia à malquerença da população.



Dentre o populacho, encontrava-me eu, simples camponês, servo da gleba, que ia, nos dias divinizados, espairecer do duro labor campestre, para extasiar-me diante da “fremosura” com que se apresentavam os mestres trovadores.



De certa feita, engracei-me por donzela de pouca idade, que me ofereceu, através de seu encantador sorriso, venturoso porvir, pleno de felicidade. Com ela me casei e tivemos muitos filhos, lindos rebentos de nosso mais puro amor. Mas como a felicidade é bem terreno e na Terra tudo acaba, acabou também para nós aquela época de serenidade e paz, pois a guerra veio destruir tudo o que havíamos plantado, até mesmo aquela adorável família.



De repente, vimo-nos na mais negra miséria, assolados pela peste. Aos poucos, vieram todos os meus filhos a falecer, tendo eu ficado sozinho, pois minha adorada esposa também sucumbiu naquela desgraça geral. Fiquei amargurado, conformado com a sorte, rogando aos céus compreensão para tamanha desdita. Perguntava somente onde estavam aqueles dias felizes de feira, na vila, dentro das fortificações, em que, de folguedo em folguedo, passávamos tantos dias alegres, sem maiores cuidados, a não ser cumprir os deveres para com a Igreja e para com Deus. Ouvíamos constantemente presságios de grandes desgraças, inclusive no átrio das igrejas, onde se representavam peças de caráter moralista, em que o Diabo fazia papel surpreendentemente malévolo e era intransigentemente derrotado e banido para as profundezas infernais, com o que nos comprazíamos, por perceber que tínhamos total proteção divina.



E agora? Onde estavam os anjos armados de fogo, para afugentar os maus que vieram para nos desgraçar? Mas eu só perguntava, pois sabia que, se assim acontecera, era porque Deus, em sua sabedoria, estava distribuindo justiça, punindo os maus e elevando os bons à categoria de anjos. Sabia, tinha certeza de que meus filhos e minha esposa estavam no paraíso celeste, aguardando por mim; por isso, não me atrevia a invectivar contra as decisões divinas, para não cair em pecado mortal. E era assim que todos agíamos, chorando às escondidas e cobrindo a cabeça com as vestes do luto. E mais e mais pessoas eram levadas por Deus e grassava a dor e o sofrimento.



De certa feita, armaram-se os homens disponíveis e foram conduzidos para a luta contra os invasores. Levavam no peito o símbolo do Cristianismo, grande cruz vermelha, e eram comandados por cavaleiros de grandes feitos d armas, poderosos em suas armaduras e temíveis com suas durindanas e farpões. Faziam-se acompanhar de grande exército de peões mal vestidos, andrajosos muitos deles, portando toscas lanças pontiagudas. E iam cantando louvores a Deus, chamando sua guerra de santa.



Partiram um dia e nunca mais voltaram. Mas a terra permaneceu defendida, pois não se ouviu mais falar de inimigos e, aos poucos, a vida foi normalizando-se. Eu me considerava pobre ancião, desdentado, coberto de feridas, alquebrado, sem forças para trabalhar, e me lembrava vagamente de que fazia um quarto de século que me casara e tivera início minha felicidade.



E foi com essa lembrança que compareci a este outro plano da existência, cheio de esperança de encontrar as delícias eternas, mas temeroso de me ver fustigado pelos tridentes em brasa das demoníacas criaturas que habitavam o báratro infernal. Mas que maravilhosa surpresa: vi-me tão-só enleado nas minhas próprias carnes, totalmente ignorante do que se passava comigo e, nesse estado letárgico, fiquei muito tempo, esquecido de tudo, sem atinar muito bem com o que se passava ao meu derredor. Às vezes, eu dormia e sonhava sonhos lúbricos, como naquelas festas da aldeia, em que homens e mulheres se despojavam das vestes para banharem-se juntos no rio de águas claras, que envolvia o castelo como um fosso natural. Outras vezes, revia-me casando, pleno de felicidade; ao mesmo tempo, aparecia um anjo exterminador, com sua espada flamejante, e estranhamente matava minha consorte e todos os meus filhos, como se tivessem, de repente, nascido e crescido ali, junto ao altar. De certa feita, lembro-me perfeitamente de ter suplicado ao pé de imensa cruz, cujos braços se perdiam na imensidão do espaço, soluçantemente clamando por perdoarem-me, para que fosse levado daquele lugar purificatório.



Após esse derradeiro sonho, obtive um pouco mais de sossego e pude concentrar-me melhor em minha infortunada vida. As idéias não eram claras na minha mente, ignorante e inculto que sempre fui. Mas foi delineando-se quadro bem esclarecedor de minhas falhas. Não tivera precauções muito nítidas em cercar o meu lar da proteção divina. Era tosca choupana, enfeitada pela carinhosa mão de minha terna esposa e bafejada de felicidade pelos risos cristalinos dos queridos pimpolhos, mas faltava o recato e a seriedade do agradecimento a Deus das benesses recebidas, pois, ignorantemente, atribuía todos esses favores à dedicação com que trabalhava a terra, arrancando do solo o seu fruto mais precioso, com que abastecia a mesa de meu senhor, com cujas sobras podia à farta alimentar minha família.



Mas não via nisso mais do que os favores materiais correspondentes ao suor do meu rosto. Não percebia que a vida não se resumia em bem alimentar e vestir a minha família ou ir à feira ou às festividades. Era preciso ter penetrado mais profundamente no espírito religioso, buscando analisar com mais detença tudo o que ocorrera comigo e com aquela sociedade vencida por vícios que, para nós, não passavam de regalias a que tínhamos direito, pela divina graça.



Esta inconseqüente atitude prendeu-me no Umbral por longo período e de lá só fui sair trazido pelas mãos frágeis mas vigorosas da querida esposa. Ainda durante muito tempo vaguei errático, pois atenazava-me a idéia de tudo ter perdido na desgraça e não compreendia que o fato de estar “conformado” não significava, necessariamente, que tivesse arrecadado com sabedoria os benefícios da dor, transformando aquele momento de profunda tristeza em hora de envolvimento sadio, para compenetrar-me de que Deus obrava realmente por caminhos tortos, para colocar à prova as suas criaturas.



Em suma, para não cansar o leitor e para precipitar o desfecho, que ficou perceptível, devo dizer que, embora obtivesse da vida todos os benefícios que me couberam, dentro da pouquidade do que dispunha, e embora tivesse correspondido com enérgica atitude a todos os reclamos sociais, ainda assim, por não me empenhar a contento na compreensão da realidade, fui “condenado” a permanecer na penumbra longamente, para que pudesse restabelecer o elo que um dia me havia prendido à relativa paz que gozara anteriormente ao encarne. Somente muito depois é que vim a perceber que as provas a que fora submetido tinham tido a minha aquiescência, para poder superar compromissos não cumpridos em encarnes anteriores.



Após ter voltado de nova encarnação, sofrida mas gloriosa, é que pude usufruir a companhia dos entes queridos que compuseram a minha família carnal na Idade Média, com quem tive a oportunidade de freqüentar cursos de regeneração espiritual, bem como, finalmente, a “Escolinha de Evangelização”, onde recebi o encargo de elaborar história que contivesse ensinamentos válidos para os encarnados.



Eis, portanto, o objetivo desta longa e tediosa narração. Espero em Deus que possa vir a servir a algum desavisado leitor que, para espairecer (como eu o fazia, nos momentos de regalo dentro dos muros do castelo), a tenha percorrido desatento, até o ponto em que a lição que tive de aprender possa servir-lhe bem a tempo de evitar o desperdício de uma vida.







Graças a Deus, estamos chegando ao fim, cheios de esperança de poder ter produzido texto digno dos queridos mestres, a quem queremos render homenagem (velho hábito medieval), através de oração de súplica pela divina luz, para que ampare a todos em sua sacratíssima missão!









COMENTÁRIO — MANUEL



Mais uma história verdadeira, na forma de narrativa, tendo o irmão Emanuel conservado o nome que portou na encarnação a que fez referência.



A história buscou não ser comovente, embora se contivesse muita dor embutida no coração de toda a população sofredora. Esse descortino não sentimental só se consegue após a compreensão exata dos mecanismos de superação das provas que são arquitetadas para enfrentamento, com vistas à redenção do estágio atual do desenvolvimento de cada indivíduo. Fica subjacente a perquirição do porquê dessa falta de emoção.



Devemos esclarecer que a emoção existe e está contida no coração do amigo Emanuel. O termo “contida” não foi utilizado ao acaso; leia-se presa, segura, sufocada. O que o amigo fez foi sublimar estado de comoção que poderia ser prejudicial ao trabalho mediúnico, que requer profunda concentração e forte poderio intelectual. Nesse aspecto, são poucos os que conseguem, com tanta facilidade, exemplificar o texto com experiências pessoais, o que evidencia, substancialmente, que o problema foi definitivamente superado, a partir do momento em que o indivíduo trata de si mesmo como se fosse de outra pessoa. Aqui a explicação mais profunda a respeito do uso do pronome “eu”, que tanta estranheza estava causando ao médium.



Quanto ao valor do texto, vamos considerá-lo como pequena obra-prima de transmissão dos ensinamentos evangélicos. Não vamos tecer elogios em vão nem comentar à exaustão, pois o comentário poderia querer impor-se até à própria peça, erro em que incidem costumeiramente os críticos encarnados. Vamos, simplesmente, dizer que da leitura da obra se evidenciará para qualquer leitor a necessidade de reflexão sobre a vida e sobre a existência; reflexão no sentido da ponderação dos valores admitidos, tendo em vista as peripécias pelas quais todo ser está passando, a cada momento.



Nesse sentido, foi muito feliz o nosso irmão, que pautou sua linguagem pelos conhecimentos atualizados do vernáculo, embora uma ou outra referência pudesse remeter para a Idade Média, possivelmente com o intuito de ambiência.



Parabéns, portanto, amigo, e compareça outras vezes, sempre que tiver disponível algum texto. Gratos por tudo e rezemos para que possamos todos compreender, em cada circunstância, a todo momento, os nossos objetivos incrustados nas provas com que nos deparamos, para que consigamos prosseguir em ascensão, rumo à casa do Senhor.



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