REMINISCÊNCIAS: “MARGARIDA”
“De tudo que é nego torto do mangue e do cais do porto, ela já foi namorada” (Geni e o Zepelin, Chico Buarque de Holanda)
Eu morava a poucos metros de sua casa ,devia ter uns sete ou oito anos de idade, e sempre o via saindo de casa para entregar marmitas no centro da cidade.
Para falar a verdade, nunca soube seu nome, apenas a alcunha de “Margarida”.
Não é preciso dizer muito sobre o seu jeito de ser e andar. “Margarida” saía de casa rebolando e chamando a atenção por onde passava.
Sempre que passava por alguns adolescentes que conversavam nas esquinas, não escapava das piadinhas.
- Aí, “Margarida”, vai ter hoje?
- Que é isso, não sou dessas, não! – ela respondia.
E os garotos caíam na gargalhada.
Certa feita, alguém perguntou:
- Como é “Margarida”, vamos ali atrás do muro?
“Margarida” respondeu na lata:
- Pra quê, se não me amas?
Ficaram todos estupefatos e um deles resmungou:
- Pô, o “Margarida” agora quer envolvimento emocional! Assim não dá!
Na década de 1970, o “Margarida” já antevia a união estável entre pessoas do mesmo sexo.
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