REMINISCÊNCIAS 3: QUARENTA-E-QUATRO
“Quarenta-e-Quatro” era um afrodescentende enorme, de 1,80 m de altura e mais de 100 kg de peso.
Ouvi dizer que seu apelido havia sido ganho no quartel, quando sua pederastia teria aflorado, e corresponderia ao seu número de soldado.
Era boa gente, respeitador e ia freqüentemente à barbearia do meu tio. Como, às vezes, coincidia de eu estar lá para cortar o cabelo, eu o ficava observando, achando curiosos os seus trejeitos e seu modo de falar.
Não raras ocasiões, recebia cantadas ali mesmo, bem como piadas de mau gosto e até mesmo ofensas, porém, ele mantinha sempre o seu jeito humilde e nunca brigava com ninguém, pelo menos nunca vi.
Quando ficou grávida, minha tia precisou ir ao INPS (hoje, INSS). Lá chegando, deparou-se com o Quarenta-e-Quatro e outra “amiga”.
Vendo que a minha tia estava grávida, ele, gentilmente, cedeu a vez e pareceu sentir-se incomodado com aquela barriga enorme.
Cutucou a “amiga” e disse:
- Vamos embora, Mona, que esse negócio pega!
Foi uma gargalhada geral na sala de espera porque ficou no ar que o Quarenta-e-Quatro estava com medo de ficar “grávida”.
Quarenta-e-Quatro era tão popular que, quando faleceu, houve comoção geral na cidade.
O jornal e as rádios manifestaram pesar pelo seu passamento.
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