REMINISCÊNCIAS 5: MARIA LOUCA
Os versos de Chico Buarque, “Geni e o Zepelin”, traduzem com perfeição quem foi Maria Louca:
“O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes,
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato...”
Ela vivia na praça central da cidade, deveria ter uns 16 anos, provavelmente, tinha problemas mentais e fora abandonada pela família.
Era conhecida, cantada e possuída pela maioria dos freqüentadores do local (mendigos, adolescentes, soldados, gente abastada em busca de novas experiências). Se não a cantavam, quem cantava era ela, levantando a saia e apontando a vagina:
-Vem, meu amor, vem!
Às vezes, ficava furiosa com alguma piadinha e gritava, xingava, dizia palavrões.
A notícia da disponibilidade da Maria Louca logo se espalhou pelo colégio e os meninos fantasiavam a possibilidade de ter sua iniciação com ela porque era baratinho e com jeito poderia sair até de graça.
Quem teve coragem de ficar com ela, poucos dias depois já apresentava sintomas de gonorréia e teve que fazer um sério tratamento médico.
A partir desse episódio, o medo tomou conta de todos e todo mundo queria distância da Maria Louca.
Quando Maria Louca apareceu grávida, a turma pegou no pé de quem tinha se iniciado com ela.
Um dia, ao dobrar a esquina, gelei ao ver a Maria Louca com outra amiga na mesma calçada.
Um soldado caminhava na minha frente e ao ver a Maria Louca atravessou a rua.
Ela, com seu comportamento característico, levantou a saia, abriu as pernas, sinalizou a genitália e começou a gritar:
- Vem, meu amor, vem! Vem, tô te esperando!
O soldado apenas abriu um sorriso.
Não tive tempo de atravessar a rua e estava a poucos metros dela. Para não chamar a atenção, abaixei a cabeça. Não adiantou. Rápida, ela enfiou a mão dentro da calcinha, esfregou-a na vagina e veio com ela em direção à minha boca.
Foi o quanto eu levantei o rosto e a mão dela roçou no meu queixo.
Disse-me ela:
- Meu amor!
Surpreso, lembrei-me dos colegas com gonorréia e apressei o passo em direção a casa.
Foram os trinta minutos mais longos da minha vida.
Chegando em casa, corri para o lavatório e lavei meu queixo com sabão em barra, sabonete, álcool, a ponto de passar vários dias com irritação na pele.
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