REMINISCÊNCIAS 7: TERESA FOGOSA
Ela chegou tímida à minha sala com as suas credenciais para assumir a função de auxiliar administrativo.
Era alta, encorpada, cabelos cacheados até os ombros, minissaia, blusa decotada, batom vermelho destacando os lábios carnudos.
Entrevistei-a, como de praxe, e a encaminhei à nossa secretária, D. Graça, encarregada do treinamento sobre as rotinas da repartição.
Em pouco tempo fez amigos e mostrou seu lado extrovertido. Estava sempre de alto astral, recebia telefonas o dia inteiro e aprendeu a gostar da internet, particularmente do chat.
Não demorou muito, D. Graça veio queixar-se:
- Chefe, tudo bem que a moça é bonita e educada, mas o rendimento do serviço está caindo.
- Está certo, D. Graça, eu vou verificar – respondi.
Fiquei observando as atitudes de Teresa.
Mal ela chegava à repartição, começavam os telefonemas que eu imaginava serem de trabalho.; e as digitações no computador,não passavam de chats de relacionamento.
Tive que chamá-la à minha sala para explicar que, no ambiente de trabalho, a gente tem que ser disciplinado para não misturar com questões pessoais e ela prometeu dar um jeito nisso.
Por algumas semanas, a situação amenizou, porém, comecei a observar que funcionários de outras repartições, que não tinham nada a ver com a nossa, passaram a fazer visitas freqüentes, trazer lembrancinhas e a ficar um tempão falando com ela.
Quando D. Graça entrou em férias, comecei a ficar preocupado com a gravidade do problema.
Os documentos que chegavam e eram redistribuídos para os demais funcionários, após o registro, eram acompanhados do seguinte bilhete:
“O documento chegou hoje. Beijos, Teresa.”
Outros eram devolvidos porque, ao invés de serem encaminhados para a expedição, iam parar na presidência da empresa e voltavam com uma reprimenda.
Ao retornar das férias, D. Graça quase teve um infarto fulminante, tal a bagunça dos arquivos, e veio ter comigo:
- Chefe, desculpe-me o incômodo, mas temos que dar um jeito nessa moça. As pessoas já andam falando pelos corredores, as outras chefias estão reclamando da ausência dos funcionários durante o expediente, a moça só recebe visitas e telefonemas de homens.; às vezes chega tarde, com os cabelos molhados, e dá a desculpa de que teve problemas em casa. Deus que me perdoe, mas acho que boa coisa ela não anda fazendo.
Fiquei mais preocupado ainda. Se a coisa continuasse daquele jeito, eu iria acabar sofrendo as conseqüências. Não podia deixar assim, mesmo tendo a boa vontade de ajudar a moça porque, até então, todas as que haviam passado pelo treinamento da D. Graça na nossa repartição, haviam conseguido bons empregos como secretárias em outras empresas.
Tive que chamar Teresa e perguntar-lhe se ela estava satisfeita com o trabalho. Ela me disse que sim.Perguntei se ela gostaria de ir para um setor diferente aprender coisas novas. Ela abriu um sorrisão imenso.
- Então ficamos assim – disse-lhe. Você vê um lugar que lhe agrade, me traz a requisição que eu libero na hora.
Ela ficou contentíssima e, em 24 horas, trouxe a requisição e foi liberada imediatamente para alívio de todos, que se sentiam constrangidos e incomodados com a movimentação de pessoas estranhas e a infinidade de telefonemas, chats, bilhetinhos.
A uma estagiária ela teria dito que estava contentíssima e que, para subir na vida, não precisava saber muito, nem ter muito estudo, bastava saber usar os dotes que a natureza havia dado às mulheres.
Meses depois, o escândalo.
Fotos e filmes de Teresa circulavam pela internet com roupa, sem roupa, acompanhada, desacompanhada, sóbria, bêbada, em posições ginecológicas, sentada, de quatro, segurando um “microfone”, ao lado de um “picolé”, na rua, na casa, na fazenda, a cavalo, no carro, na bicicleta, no barco, no helicóptero, em diferentes sítios da rede mundial de computadores.
Todos ficaram estarrecidos. Nunca na história da empresa havia acontecido uma coisa desse porte com algum funcionário.
Teresa não teve condições de continuar trabalhando na empresa e sua carreira profissional acabou naquele dia.
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