REMINISCÊNCIAS 16: O EXAME DE PRÓSTATA E A EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA
As pesquisas estavam estampadas em todos os jornais: o câncer de próstata ocupava o terceiro lugar entre os tipos de tumores que mais atingiam os brasileiros. Era preciso fazer o exame preventivo e o mais indicado era o toque retal.
Zozimar ficou preocupado com a questão da virilidade e foi buscar informações com alguns amigos que já haviam feito o tal exame preventivo e ouviu uma série de histórias e lorotas.
Carlão, por exemplo, tinha que fazer todos os anos por exigência da empresa onde trabalhava e contou que o urologista sacaneava muito com ele, inclusive havia prescrito uma ecografia da próstata, via retal, e que, naquela altura do campeonato, nem se preocupava mais se estavam enfiando o dedo ou qualquer outro instrumento no seu fiofó.
Com o Nei havia sido diferente. Antes do toque, havia feito exame de sangue e PSA, depois ecografia abdominal. Na hora do exame, ele teve os “documentos” apalpados e depois o momento mágico – a dedada, da qual sempre sentia saudades.E ria até não poder mais.
Todo o pessoal da repartição tirava onda com o Rui que todos os anos, religiosamente em agosto, fazia o exame porque tinha tido casos de doença na família. A gozação era que ele não via a hora do exame chegar para ser tocado.
Zozimar andava encucado só em pensar em como seria o exame, por isso protelou, protelou e protelou o máximo que pode. Porém, a reportagem não deixava dúvidas: a prevenção era o melhor a ser feito. Ainda mais ao saber que a taxa de mortalidade por tumores de próstata havia crescido em 95,5 % de 1979 a 2004, segundo o Instituto Nacional do Câncer.
Marcou consulta com um urologista, explicou sua resistência com relação ao toque retal e o médico comentou que 80 % de seus pacientes iam lá para exames de prevenção, pois a doença estava tão comum quanto o câncer de mama e que as mulheres todos os anos deveriam fazer mamografia.
Para não traumatizá-lo, o médico prescreveu exames de sangue e ecografia abdominal.Os resultados deram todos normais.
No retorno ao consultório, o médico deixou em suas mãos a decisão do toque. Explicou que era o mais indicado porque o tumor se manifestava na parte próxima ao intestino e a única forma de saber era tocando para ver se havia algum tecido mais rígido ou espesso. Se houvesse, haveria necessidade de uma biópsia.
Zozimar contrapôs se o toque poderia ser feito pela frente, entre os testículos.
O urologista mostrou uma figura, um corte transversal do corpo humano, mostrando que a forma mais prática de acessar a próstata era via retal. Não tinha escapatória.
Zozimar pensou, lembrou-se de um conhecido político que disse que mais dia menos dia iam enfiar o dedo no fiofó da gente, e aceitou o exame.
Respirou aliviado com o diagnóstico: estava tudo bem, não havendo necessidade de uma segunda opinião como zoavam seus colegas de trabalho.
Pensando na questão dos exames preventivos de mama e do Papanicolau, até que o toque havia sido rápido, apesar de desconfortável.Mas, não se sentiu humilhado porque o médico teve uma postura altamente técnica e profissional, diferentemente do que os colegas de trabalho haviam comentado. Pura gozação!
Sentiu-se vitorioso.
Era menos um nas estatísticas médicas de ocorrência de câncer de próstata e vencera o preconceito.
