REMINISCÊNCIAS 31: O CORREDOR
Candice estava noiva e tinha o maior orgulho. Iria casar com o dono de uma rede de lojas da cidade. Ela iria ter o sobrenome famoso, seria ‘socialite’. Por isso, era motivo de chacota da turma toda.
Ela repelia as gozações com respostas diretas, na ponta da língua, mas levava na brincadeira.
Lembro-me de uma vez, em um sábado, durante uma aula de Desenho Técnico, ela perguntou:
- Alguém tem durex?
Uma vozinha lá do fundo respondeu:
- Por enquanto só tem ‘molex’. Se tiveres paciência, em poucos minutos terás durex.
Foi uma gargalhada geral. Assim era a minha turma.
Tínhamos problemas de transporte do campus rural até a cidade e vice-versa.
No segundo semestre, tivemos a vinda de um novo colega. Não me lembro o nome porque foi somente naquele semestre. Só me lembro que ele era corredor de ‘stock car’, já havia ganhado algumas corridas, sofrido muitos acidentes, tinha pinos por todo o corpo e se orgulhava disso.
Candice bateu os olhos nele e eles brilharam ouvindo as histórias de corridas, de campeonatos. Mais ainda quando ele a convidava para ir de carona até a cidade. Ele usava toda a sua técnica e fazia o percurso de quarenta minutos em vinte minutos.
Como ela estava noiva, não escapava das gozações.
- E aí, Candice, já pegaste na alavanca?
- Ele já te ensinou a trocar o óleo?
- Ele já te pegou no colo para ensinar-te a dirigir?
Ela ficava furiosa e fechava a cara, porém, não dispensava a carona e nem o papo do corredor.
A associação comercial do município estava negociando a instalação de vinhedos, próximos ao Forte de Santa Tecla, para a produção de vinhos finos e havia concordado com um plantio experimental. Coincidentemente, para aqueles lados havia também um motel.
Um dia, nossas aulas terminaram cedo, devido a um problema pessoal com o professor, e ficamos lá no campus rural esperando o horário do ônibus.
O corredor convidou Candice para ir para a cidade. Um colega pediu insistentemente uma carona e o corredor, a contragosto, concedeu.
Foram os três: o corredor,a Candice e o Alvair.
Chegando ao trevo para o Forte de Santa Tecla, o corredor disse para o Alvair que iria deixá-lo ali porque iria com Candice visitar os vinhedos.
O Alvair ficou chateado, mas não tinha outro jeito. Teve que descer e conseguir uma carona para a cidade, o que acabou levando mais de meia hora.
No dia seguinte, pau da vida, comentou com os colegas:
- Pô, que sacanagem! O cara concordou em me dar carona, mas me deixou no trevo porque ia levar a Candice para ver as videiras.
Imediatamente, um outro colega ouviu e disse:
- Ver videiras coisíssima nenhuma. Eles devem ter ido para o motel que tem por lá.
- É mesmo – lembrou outro. – Lá tem mesmo um motel.
Coitada da Candice,ouviu essa história e a gozação subseqüente até o dia da formatura.
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