As bolhas
MARIA DA GRAÇA ALMEIDA
Tremulando pelo ar,
leves bolhas de sabão
permitiam-se espalhar,
afastando-se do chão.
Enfeitadas com as cores,
emprestadas pelas flores,
exibiam um bailado,
mesmo sem tê-lo ensaiado!
Pelos lábios do canudo,
sempre as bolhas de sabão
convidavam-me a dançar,
gentis, tocando-me a mão .
Tanto eu ficava encantada
com tal configuração,
enquanto as bolas sopradas,
coloriam a estação.
Tênues, belas as esferas,
tonalizadas de anis,
muitas vezes se alongavam,
resfriando- me o nariz!
Quando em meus olhos caíam
e deles água vertia,
mais apertava nas mãos,
verde o talo do mamão.
Assim esmagado e mudo
aquele que era canudo
não mais diria a linguagem
das cores da paisagem.
E desfeita a fantasia,
meu breve sonho se ia...
Jazia a caneca no chão,
sem a água, sem sabão.
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