CONSULTA AO PROCTOLOGISTA
Paccelli M. Zahler
Para um macho que se preza, não tem nada mais humilhante que uma consulta ao proctologista. Fazer o quê? Uma vida sedentária, a prisão-de-ventre contumaz, os maus hábitos alimentares, lesões freqüentes no roscofe e, inevitavelmente, hemorróidas.
- Vai ao médico!
- Vou nada, isso passa!
- Passa nada!
O orgulho vai por água abaixo e chega o dia.
- Doutor, é um probleminha simples, etc. e tal.
- Abaixa as calças e fica de quatro que eu tenho que apalpar.
- Que é isso, meu? Não sou desses, não! Pensando o quê?
- Nesse caso, não posso fazer nada pelo senhor. Até logo!
- Até nunca!
Passa o tempo, o problema não acaba, outra consulta, a mesma proposta indecente.
- Está certo, concordo, mas só deixo olhar um pouquinho, ouviu?
- Nada disso! – responde o médico, de luvas esterilizadas e passando vaselina no indicador duro, roliço, grosso e comprido.
- Êpa, o que é isso, doutor? Tira esse dedo daí, porra! O que é que os outros vão pensar?
- Cala a boca e me deixa fazer o exame direito!
- Sou macho, porra! E tá doendo!
- Calma, relaxa, se solta, aproveita,...
- Aproveita uma ova! Até logo!
- Até!
E o problema volta com mais gravidade. Outra consulta.
- Tá bom, pode colocar o dedo. Mas não conta pra ninguém, certo?
- Pode ficar tranqüilo!
- Ai, que dor horrível, parece que tem pimenta no meu rabo!
- Relaxa que agora eu tenho que espiar lá dentro!
- Tá louco? Primeiro, esse dedo duro aí, agora esse tubo de metal com luzinha dentro? Não mesmo?
- É o jeito!
- Ai, meu Deus, que vergonha! O que a vizinhança vai falar? No mínimo, que eu não posso mais viver sem o dedo do doutor; ou, que o médico me mandou dizer 33 e que eu fiquei contando lentamente 1,2,3,4, ...33, só para aproveitar a oportunidade. Que vexame!
- Seu caso é grave e só a cirurgia resolve.
- Tudo bem, eu já não estou agüentando a dor. Em segredo, combinado?
- Palavra de médico!
A cirurgia é feita na capital, durante as férias, para ninguém desconfiar. Recuperado, ele volta para casa. Bronzeado, pois aproveitou para passar uma semana na praia.
Em passeios pela vizinhança e visitas aos amigos, não escapa da gozação:
- Fez recauchutagem, hein, Manoel?
- Feliz ânus novo, Manoel?
- Ué, como foi que descobriram?
Um verdadeiro mistério!
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