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Artigos-->178. INDICAÇÕES INÚTEIS — TIMÓTEO -- 16/04/2003 - 07:39 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Um dia, um homem chegou perto de uma ursa e lhe perguntou:



— Querida amiga, saberia informar-me onde poderia eu encontrar abrigo por uma noite?



Respondeu-lhe o animal:



— Vá procurar os seus na cidade mais próxima, que fica a uns quinze minutinhos daqui, seguindo por aquela trilha à direita, que adentra pela floresta.



Julgando-se enganado pela fera, o homem disfarçou. Tendo-se afastado a ursa, enveredou pelo caminho da esquerda, indo dar de cara, de novo, com a mesma ursa, que, pachorrenta, descia de uma árvore com cachos de mel nas patas e abelhas zoando em torno do focinho. Vendo o homem, interrogou:



— Meu caro, perdido de novo?



Aí o homem desconcertou-se mas, dada a finura da ursa, pôde arriscar uma desculpa:



— Não é bem isso; é que não me lembrei de agradecer-lhe e segui pelo caminho pelo qual você veio, para deixar os meus mais vivos agradecimentos por ter sido tão gentil para comigo. Queira perdoar-me ter sido tão mal-educado e aceite meus votos de felicidades e muitos anos de vida. Adeus, amiga.



E mais que depressa arrepiou caminho, indo deparar-se novamente na clareira de onde o caminho se bifurcava.



Ali estava uma raposa a lamber os pêlos. Imaginou que pudesse ser-lhe útil e solicitou amavelmente que lhe informasse qual caminho seguir para ir à cidade mais próxima.



— O da direita, retorquiu imediatamente o raposão, que, em seguida, desapareceu, buscando internar-se na mata pelo caminho da esquerda.



— Alguma coisa deve estar errada, disse de si para consigo mesmo o rapagão. Acho que não querem que eu atinja o meu destino. Seguirei com toda a cautela o caminho da esquerda, pois acho que a raposa deve estar longe e a ursa, dormindo.



Disse e fez. Caminhou uns dois quilômetros a passos rápidos e nem sinal de cidade alguma. O céu dava mostras de escurecimento breve. Começou a ficar atemorizado, quando ouviu claramente vozinha interrogativa:



— Perdido, novamente, cavalheiro?



Não é preciso dizer que era a raposa, que segurava entre as patas dianteiras rechonchudo frango do mato.



Nova desculpa e novo retrocesso. O pobre rapaz, já noite escura, no meio da clareira, não enxergava um palmo adiante do nariz.



Pôs-se a soluçar, amaldiçoando o triste fado:



— Por que fui internar-me por este denso matagal? Não poderia ter ficado junto de meus amigos, gozando da tranqüilidade de vidinha pacata, sempre igual? Por que aventurar-me a conquistar o mundo e a conhecer novas terras e nova gente? Será que terei de terminar aqui, abocanhado por alguma fera carnívora e selvagem? Será que não terei alguém que me ensine o verdadeiro caminho e me guie neste breu de escuridão?



Disse e ouviu uma voz ao seu lado:



— Não tenha medo, amigo Timóteo. Sou seu protetor e conhecedor profundo destas matas. Vou acender uma vela e você irá seguir-me. Venha.



Vendo que a luzinha se deslocava no escuro, hesitou um pouco para considerar a situação.



“Quem será esse ‘protetor’, que me chamou pelo nome? Será alguma alma penada que habita a floresta, já que conhece tudo tão bem? Não estará planejando enganar-me e levar-me onde estão os tigres e os leões? Vou fazer algumas perguntas para ter certeza de que estou sendo bem orientado.”



— Amigo protetor, poderia dizer-me para onde vamos?



— Para a cidade mais próxima, mas devo adverti-lo de que a minha vela tem a duração da jornada e, se não nos apressarmos, não chegaremos a tempo.



— Está certo, obtemperou, mas acrescentou, desconfiado: — Que cidade é essa e quais são os seus habitantes?



— A cidade é dos “homens-luz” e se chama Divina Providência.



— Não é nome esquisito para população esquecida na floresta e para cidade desconhecida?



— São os nomes que têm, como o seu é Timóteo e o meu é Arcângelo. Vamos seguir...



— Você é dos homens-luz e habita aquela cidade ou é de outra região?



— Não se perca por me interrogar, meu caro Timóteo. Poderia dar-lhe todas as informações e ainda assim você iria desconfiar de que não o levaria à cidade. Pois bem, o tempo de luz de minha vela esgotou-se. Fique aí na escuridão e veja se consegue passar a noite sozinho até clarear o dia. Depois pegue o caminho da direita. Adeus.



Disse e um farfalhar de folhas cada vez mais distante indicava que se afastava pelo caminho da esquerda.



E lá ficou Timóteo entregue às meditações mais tenebrosas. Agüentou-se como pôde, até que começou a clarear. Aí vislumbrou as entradas dos caminhos e pôs-se a examinar por qual deles enveredaria.



— A ursa quis enganar-me, o raposo também e o “homem-luz” logo apagou a chama, tendo seguido pelo caminho da esquerda. É por aqui que vou insistir.



E pela vez terceira, caminhou resoluto, adentrando a floresta pelo caminho da esquerda.



Desta vez, caminhou até esquentar o sol, sem que encontrasse vivalma. Estava desanimando, quando divisou, à beira do caminho, rústica choupana. Esperançoso, apressou o passo e chegou à beirada do casebre, onde estava acomodada, em tosca cadeira, uma megera, pobre velhinha octogenária.



— Querida vovó, disse-lhe o viandante, estou perdido e preciso de informação. Onde poderei encontrar a cidade mais próxima?



A velhinha, toda enrugadinha, com os olhos brilhando no fundo de duas profundas cavernas, respondeu, movimentando os lábios sobre as gengivas vazias:



— Meu caro, você está indo para o fundo das grutas onde existe o sorvedouro dos que se perdem por estes caminhos. De lá ninguém voltou jamais. Veja se consegue retroceder até uma clareira e retorne pela estrada da direita. Estou há muito tempo aqui e todos os que seguiram o meu conselho não voltaram jamais, pois devem ter encontrado a cidade da Esperança, a cidade dos homens-luz, a Divina Providência.



— Eu muito lhe agradeço, bondosa senhora. Farei como diz, pois até agora só encontrei quem quisesse fazer-me seguir pela estrada errada.



— Quem foi que procurou levá-lo às Cavernas das Eternas Trevas?



— Foi uma ursa enorme.



— Não acredito que tinha sido a Mãe Caridade. Ela é muito boazinha!



— Foi também um raposão enorme.



— O Senhor Perdão não faria isso!



— Pois, por fim, um tal de Arcângelo, que eu não vi, tentou induzir-me a seguir caminho errado.



— Jamais. O Espírito da Divina Luz nunca iria tentar fazê-lo desaparecer no Sorvedouro Infinito.



— Então, por que estou aqui?



Aí, deu-se uma transformação. A pobre velhinha encarquilhada pôs-se de pé e seus membros foram transformando-se em longas asas brancas. A sua fisionomia transmudou-se e as feições foram abrandando-se e iluminando-se. E a figura de anjo de esplêndida conformação elevou-se a alguns metros do solo, fazendo com que a vista de nosso Timóteo se ofuscasse com tanto brilho.



Então, fez-se ouvir, através de maviosa voz, que mais parecia cantar a melodia mais sublime:



— Meu jovem, eis que você não percebeu nada do que lhe estava reservado. Quando começou a viagem, sabia bem o roteiro que deveria seguir. Mas perdeu-se no caminho, esquecido das recomendações que você mesmo se obrigou a decorar. Esforçou-se, é verdade, durante certo tempo, tendo chegado bem perto de seu destino. Mas não acreditou mais em si mesmo e precisou consultar o passante. A Caridade favoreceu-o, mas você não lhe deu atenção. Agiu mal mas teve a sua vez o Perdão, que o alcançou. Aí pensou que podia seguir segundo o seu discernimento, não dando importância aos conselhos de quem conhecia ainda mais que você. Finalmente, estando desesperado, com a mente totalmente obscurecida, foi-lhe dada importante oportunidade pelo Espírito da Divina Luz. Mas não foi capaz de enxergar toda a luminescência que envolvia o nosso Arcângelo e pensou que a luzinha bruxuleante fosse estratagema da maldade. Mas o maldoso foi você, que preferiu ignorar o conselho do amigo, para seguir o seu “esclarecido” e “arguto” pensamento. Eis que diante da velhinha, que o acolheu como se fora o próprio amor da Divina Orientação, hesitava e tentava evitar o chamamento à realidade, para desfechar o seu último arranque na direção do Mal Maior. Agora estou aqui para, definitivamente, dizer que você errou durante a caminhada. Siga atrás, volte à clareira, adentre pelo caminho da direita, que chegará ao seu destino.



Disse e desapareceu.



Aturdido com aquela magnificência, Timóteo ficou longamente a cismar. Que estaria pensando? Não deveria retornar imediatamente? Por que retardava o passo? Estaria duvidando da sublime inspiração? Que mais era preciso para revelar-se a ele o caminho da Cidade da Divina Providência?



Nem é preciso dizer. Timóteo seguiu em frente e foi tragado pelo sorvedouro e nunca mais ninguém ouviu falar dele.







Essa é a história da Humanidade. Moisés trouxe as Tábuas da Lei: era a Misericórdia Divina. O homem não acatou e não foram poucos os que persistiram pelo caminho da esquerda. Jesus foi o cordeiro de Deus, que veio ao mundo para restabelecer o Reino do Pai no coração humano: era o Perdão Redivivo. Não bastou para os corações empedernidos. Com o Espiritismo Kardeciano, tivemos o Espírito da Divina Luz a trazer a Revelação do Verdadeiro Caminho. Muitos nem sequer foram capazes de vislumbrar a sublimidade da luz em expansão, preferindo assoprar o que lhes parecia inexpressiva vela. Agora, por todos os lados, Anjos plenos de Luz, de Amor, de Misericórdia, acorrem para trazer auxílio aos encarnados, do modo mais sensorial possível, fazendo com que o fato se evidencie até mesmo para os mais broncos e ensandecidos pelos vícios e pelos crimes. Ainda assim, os homens não primam o proceder de molde a encontrar o verdadeiro caminho da Divina Providência. Não haverá outro recurso: terão de ser tragados pela tribulação de outras desventuras, até que se compenetrem as consciências de que tudo lhes foi ofertado em abundância mas nada quiseram aproveitar. Vamos pedir, então, a intercessão do Espírito de Luz, para que venha trazer a todos a sua vibração de amor, para que sejamos sensíveis aos informes, aos avisos, às admoestações, que se têm feito para o despertar para a Bondade, para a Verdade, para a Fé, para o Amor, para a Benquerença, para a Caridade, enfim, para a aspiração maior de se chegar ao Reino da Divina Providência.







Graças a Deus! Um amigo insignificante, muito parecido com o Timóteo da historieta. Grato a todos que pacientemente chegaram até o fim, especialmente ao amigo escrevente, que tolerou ditado cheio de peripécias. Grato a todos os que me assistiram neste atrevimento.









COMENTÁRIO — MANUEL



A historieta nos interessou sobremodo. É sempre muito interessante ativar a imaginação do leitor, de sorte que os conceitos emitidos possam adquirir estatura, fazendo com que o que é positivamente abstrato ganhe dimensões corpóreas, tangíveis para as mentes encarnadas, que são, então, capazes de rememorar com mais facilidade cada passo da história, relacionando inequivocamente o fato, a ação, ao teor doutrinal implantado no texto.



Neste sentido, figuras conhecidas através da fábula, como o leão, o tigre, a raposa, o urso, devem ser empregadas com sua força simbólica, pois cada animal encerra em si conteúdo moral, equiparando-se às virtudes que se podem sentir nos próprios animais. Assim, ao leão se dá o notável apanágio da força, ao tigre, a violência, à raposa, a sagacidade, ao urso, a doçura, embora nenhum dos animais, enquanto seres das florestas, tenham realmente esses atributos, a não ser por inferência da imaginação humana.



Se estamos fazendo referência ao fato, é porque temos censura a fazer ao nosso caro Timóteo: é que o aproveitamento dessas figuras da fábula, com características outras das consignadas pela mítica humana e consagradas na literatura universal, podem servir para confusões no espírito dos homens, acostumados a ver, por exemplo, na figura do cordeiro, a brandura de Jesus; se fosse aplicada a imagem do cordeiro para representar a fé, poderiam achar que se tratasse até de ofensa ao espírito religioso.



Por isso, recomendamos ao jovem autor prudência na utilização de certos meios literários. É preciso ponderar bem em que sentido devemos delinear nossas personagens, para lhes dar a vida de empréstimo da imagética que repousa no fundo do inconsciente coletivo.



Isto tudo, no entanto, não desmerece o texto. Teve o condão de despertar-nos a curiosidade e isto é fato muito relevante. Sabemos que o amigo teve contacto com as artes cênicas durante o último encarne, de modo que todo o drama pode ser representado em palco com cenário único, podendo-se montar pequena peça de alto sentido doutrinal e moral. Caso algum leitor se interesse neste sentido, não vemos muitos obstáculos a serem superados para a encenação. Sendo assim, é perfeitamente plausível o texto elaborado pelo amiguinho, que está aqui de coração opresso, querendo saber se se saiu bem em seu primeiro “atrevimento”. Evidentemente que sim, em todos os sentidos; se fizemos algumas restrições, têm mais o condão de serem esclarecimentos de caráter geral do que particularmente aplicáveis à mensagem.





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