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cronicas-->Neto é muito mais que filho do filho -- 10/01/2009 - 10:43 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Neto é muito mais que filho do filho

Aroldo Arão de Medeiros

Seu José tinha uma filha que trabalhava fora e o genro viajava muito. Então Seu José e a esposa passaram a criar o neto. E o fizeram com muito carinho e amor. Durante cinco anos era Mizinho pra cá, Mizinho pra lá. Seu José, antes um homem sisudo, mudara com a presença do neto. Era só alegria: ria sozinho, o velho. No final de semana quando a filha ia buscar Mizinho, ficava mais cabisbaixo, não conseguia disfarçar a tristeza, embora soubesse que no final do próximo domingo o xodó voltaria para os seus braços e ele voltaria a sorrir.
Quando Mizinho completou cinco anos, a filha resolveu pedir demissão do emprego. O salário era tão baixo que achou melhor ficar em casa com o garotinho. Seu José ficou amuado com a decisão. Mas o que fazer, repetia o velho com seus botões, cada um tem que seguir a vida do jeito que mais lhe convém.
Seu José, cujo trabalho era transportar verduras e legumes para o Ceasa duas vezes por semana, passou a fazê-lo três vezes apenas para poder visitar mais o neto. Saía de madrugada, fazia as entregas e, lá pelas dez da manhã, passava na casa do cunhado para bater um papo e tomar um cafezinho sem mistura, que ele chamava de "aparadinho". Dali ia na casa da filha com a desculpa de tomar outro aparadinho, mas na verdade era para beijar, colocar no colo, enfim, fazer carinho no neto.
Certa manhã, no meio daquele trajeto que percorria com a cabeça só pensando em encontrar o neto, o motor da Kombi começou a pegar fogo. Seu José saltou, viu crianças em volta do velho carro e pediu um balde com água numa casa próxima. Assim que conseguiu conter o fogo, abaixou-se ao lado de um menino que apreciava a cena e que tinha, aparentemente, a idade do neto, e beijou-o com sofreguidão no rosto. Sentou-se na calçada, girou os olhos e desmaiou. Foi levado rapidamente para o hospital, mas o coração não aguentou.
Eu fico imaginando o que teria passado pela cabeça de Seu José: o fogo na velha Kombi poderia ser pior, poderia ter causado uma explosão, uma daquelas crianças poderia se machucar gravemente. Poderia, até, ser o neto. E Seu José não suportaria se sentir culpado por tirar a vida de quem vinha lhe proporcionando as maiores alegrias que a vida já lhe dera.


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