Ao Zé - ou melhor- José
no mundo onde estiver.
Zé louco
Suado, estafado
e vinha o coitado,
correndo nos becos,
fugindo do cerco!
O ouvido zumbia,
o pé lhe doía,
morria aos pouco,
chamavam-no louco!
E o louco saía
e o louco queria,
sentar-se num canto,
chorar todo o pranto...
Sob pedra cruzada
e vaia exaltada,
Zé debatia-se,
em franca agonia!
Um dia cansado,
parou de correr,
voltou-se ao povo
e pôs-se a dizer:
- Sou pobre e roto,
um ser aos farrapos,
sou sujo descalço,
mas não ameaço...
Sou fome e frio,
inteiro, um vazio...
mas não sou estúpido,
ainda sou lúcido!
E mesmo assim,
pobre de mim,
dizem que sou
louco, enfim...
E louco, por quê?
só vivo fugindo
do ataque que é seu!
Eu sou perseguido...
e o louco sou eu?
Maria da Graça Almeida
Revista fresta
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