Caro rebelde
maria da graça almeida
O silêncio é válido, para que um dia não nos acusem de uma opinião danosa, de uma palavra inconseqüente ou impensada. É necessário, para que não nos vejamos envolvidos em futuras desavenças. É imprescindível, para que não nos incriminemos em determinadas situações. É fundamental, para que não tenhamos nossos ditos, de alguma forma, distorcidos por pessoas inescrupulosas.
No entanto, para mim, a mudez é uma das mais perigosas formas de omissão.
O silêncio, tão louvado, até chamado de ouro, muitas vezes faz sucumbir uma empreitada, uma programação, um desejo, um sonho, um estilo de vida.
Ainda creio que o mais salutar para qualquer tipo de relação seja o compartilhar, é assim que se estabelecem os vínculos, que se determina a cumplicidade, que se cria a possibilidade de um envolvimento profundo e verdadeiro.
Se nos calamos, mostramos a descrença no diálogo; notificamos que ele já não vale a pena e que a demonstração dos medos, das fraquezas já não encontra eco e não é levada a sério.
Se o silêncio imperar é porque está morrendo o empenho e a vontade de acertar o que está torto e de consertar o que quebrou.
Quem valoriza em demasia o silêncio desconsidera o que outro exaustivamente tenta lhe dizer, e, definitivamente, desprestigia suas expectativas.
Observação:
Agora é a hora do "fala boca"; o tempo do "cala boca" já passou.
Sei que não é a última palavra que determina a razão, mas as palavras permitem a sua exposição.
maria da graça almeida
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