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Cartas-->Para Dr. Cícero -- 05/12/2005 - 08:37 (José Ronald Cavalcante Soares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Carta para Dr. Cícero,


Como eu não acreditava na sua partida tão próxima, entrei na UTI e rezei demoradamente pedindo por sua saúde. Senti uma vibração positiva no seu semblante, ali deitado, respirando artificialmente, mas de modo tão sereno, que jamais cuidei que as coisas sairiam como realmente saíram.
Bem, eu sei que a escolha foi sua, optou pela cirurgia de alto risco, mas havia uma certa dose de fatalidade naquela sua escolha: algumas semanas antes, chorando, segundo me foi revelado, chamou dois dos filhos e os convidou a irem consigo à Fazenda, no Piauí, dizendo que seria a última vez. Depois, já no hospital, para o filho que leva seu nome: Será que eu estou apressando a minha viagem? Mas, foram tantos sinais positivos, que a gente fez fé num desfecho inteiramente diferente.
E aí, depois de sair da UTI num pós-operatório que nos encheu de esperanças, começou um lento martírio, uma involução cruel que o empurrou de volta à UTI e ao tubo, aos dias de incerteza que eu via no rosto aflito de sua primogênita, minha querida Alice, enfim, a um tempo que eu não quero relembrar.
E estávamos nós aqui em Brasília, quando soubemos do estado desesperador, irreversível, segundo a voz grave de uma de suas noras, o conselho do meu cunhado: tratem de vir logo, pois o quadro é muito grave. Minutos depois: o que não queríamos ouvir, o desenlace.
Partiu assim, meu sogro, sem nos dizer um adeus e só podemos ver o seu rosto sereno naquele esquife, naquela hora em que as orações se mesclam aos prantos, às vozes embargadas, as emoções desencontradas e descontroladas, quando quase tudo é permitido.
Acredito firmemente que a sua ida assim tão rápida tenha se dado em função do chamado recebido dos seus entes queridos que já lá se encontram: D. Maria Alice, Chico Neto, Dr. Ney, D. Maria Augusta, Cel. Chico Alves, imagino como não terá sido o reencontro!.
Mas, não é surpresa para mim a sua retirada de cena, pois a educação e a grande humildade sempre foram marcas de sua personalidade, a voz mansa, os gestos gentis, o sorriso franco, o agitar das mãos tão característico, que os da família batizaram de o “adeus do velhinho”, tratamento carinhoso para alguém que, indo embora aos 87 anos, soube ser sempre moço nas atitudes, na desenvoltura, no apego à vida.
Esta carta vale como uma pequena homenagem do seu genro, servindo também como agradecimento público pelos exemplos que me transmitiu, pela ajuda inestimável na minha carreira, por ter sido, afinal, o pai amado de minha esposa.


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