Transe
maria da graça almeida
A noite ameaça, o dia entontece,
há um visível desgaste...de impossível resgate!
A energia, pelos poros, põe-se em fuga.
O coração resfolega. O corpo range.
Sou um amontoado de nervos tesos.
O medo, altivo, impõe-se.
Num giro louco sobre o próprio eixo,
espio o mundo em transe, pois que,
indisposta, diante do espelho nem ao menos ajeito
os cabelos desfeitos.
Sou novelo de sentimentos e emoções
que teme a separação da matéria e do espírito.
Da realidade, sou planta enroscada no xaxim
e da ilusão, sobre o papel, um insignificante
borrão de nanquim.
Com ou sem razão, sou o resultado
da incerteza. E da fé em constante tensão.
Dizem que eu mesma escolhi ser assim
e, assim, pressinto no ar
os ares e a chegança do fim.
Fim!
Fim.
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