Lágrimas de nuvem
maria da graça almeida
Um anjo de asinhas leves
cosia com linha de seda,
linda nuvem colorida,
cantando-lhe uma cantiga.
A nuvem aprisionada,
ao sentir-se tão cerzida,
observou-o, desencantada,
e pediu-lhe, dolorida:
- Solte-me, anjo cantador,
atenda-me, por amor,
sua voz é pura beleza,
mas não posso ficar presa,
tem sede a Mãe Natureza!
Calando então a canção,
docemente lhe indaga o anjo:
-Para que tanta aflição?
Canto, com jeito... baixinho,
adormeço-a com carinho,
em seguida volto à terra,
buscando novos caminhos.
- E você julga-se certo?
Se não posso tê-lo perto,
o meu mais nobre dever,
não deixarei de fazer!
Solte-me, rapidamente!
Farei chover, de repente.
Mas o anjo, inclemente,
argumenta com vontade:
- Despertando aqui sozinha,
chorará, sei com certeza,
gotas quentes de saudade,
que atenuarão sem frieza
a sede da natureza.
Maria da Graça Almeida
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