Boi da cara preta
maria da graça almeida
Notas agudas, soando,
chegam a me entardecer,
impiedosas, lavando
os olhos do meu querer.
O som que me molha os ouvidos
arremete-me a tempos antigos:
Boi da cara preta,
marrom, branca ou amarela,
boi da minha infância,
já voou pela janela...
Se essa rua fosse minha,
com certeza a cercaria,
conservando ainda hoje
sua alegre ventania.
As notas são sempre as mesmas,
os dias não são iguais,
o boi e a rua distante
se foram na voz de meus pais.
Maria da Graça Almeida
|