Hoje eu sou todo feito de recordações: é junho, noite de 19, bem no coração do Brasil, no Planalto Central, depois de um dia duro de trabalho. Penso nos meus queridos velhos e no número 183, que é soma dos 94 de meu pai e dos 89 de minha mãe.
Vou direto ao passado para reencontrá-los moços ainda, arremessando-me direto nos seus braços, menino de cabelos grisalhos, querendo carinho e conversa fiada, aborrecido de tantos dizeres jurídicos, de tantas soluções para casos controvertidos, de agravos, revistas, embargos e coisas assim.
Eu só quero a rua quieta que o progresso, impiedosamente, assassinou. A casa de minha avó, a graúna se peneirando e cantando, as novelas da PRE-9, os meninos soltando arraias, jogando pinhão, vendo os filmes de Durango Kid, jogando bola de gude, bola de meia...Fortaleza despertando para a vida adulta, provinciana, espreguiçando-se à beira mar, na rede branca de algodão, as conversas nas calçadas, a lua, os casos de vidro brilhando no meio do pavimento de pedra tosca, a vida escorrendo "silenciosa e macia como azeite num funil". |