O rio
Maria da graça almeida
Rola o rio adormecido e mudo,
em cochicho miúdo, absurdo!
Desliza em cochilos alados,
num leito molhado e cansado.
Rola o rio em embalo trôpego,
com sibilos roucos e sôfregos.
Verte um choro machucado,
benevolente ou irado
E rola descendo a serra
em desgraça ou benefício,
ora mata a sede da terra,
ora a afoga em desperdícios.
Incauto, ignora o rio
que se a terra assim quisesse,
dele faria um só fio,
antes que a cheia viesse.
Maria da Graça Almeida
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