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Cronicas-->APINAJÉ -- 30/04/2013 - 11:36 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Imagem:geomundo.com.br

 

 

Saudade vai, saudade vem. Saudade tem hora que dói

Açula demais o coração. Saudade é comichão que pica

A mulher se foi morrida. Sete  filhos vivos se vão

               E só, Chanana, a filha caçula fica

 

 

Apinajé tocava cangoeira feita com osso do pai morto em conflito com o homem branco e quando resolveu falar Português, a índia revelou que durante a noite, rondava Campo Grande, bebia de um rio cujo nome não sabia dizer, colhia frutas na chácara e dividia com um bezerro as tetas de uma vaca mansa que lhe dava de mamar. Disse que viu a onça abater o bezerro da mimosa, por isso, perseguia a pintada quando foi acuada pelos cães do homem branco. Disse também que fugira de sua tribo em Goiás logo que os deuses encomendaram castigo de destruir a floresta. Ela quis saber do marido quantas luas homem branco gastava montado em seu cavalo-de-ferro, dali de Juramento até Bico do Papagaio.

— Sê besta mulher! — Disse Zenofre — Morcegar traseira da vespa de Vespasiano até Goiás e com uma barriga deste tamanho!?...

 Ela  se referia ao animal fumegante que servia de transporte para branco. Queria pegar a jardineira de seu Neco Braga, de Juramento a  Montes Claros, e daí em diante, tomar rumo da aldeia noutra condução. Nunca foi ver os parentes.Ela foi para o outro lado da vida sem rever seus ancestrais.

Parir de sete meses, não era bom sinal para Apinajé nem para a cria. O primeiro filho foi prematuro. Vingou bem. Para lidar com caça, cafuzo Adail vingou bem. Desaparecia na mata sem deixar rastro. Era preguiçoso  para pegar no pesado com o pai, mas corajoso para entrar na mata atrás de uma caça. Passo macio, veloz e ligeiro chegava com um tatu a tiracolo. O pai desgostoso sabia que o filho bebia cachaça nas vendas do povoado.

— Vá tomando nota aí, seu Jerômo. Quando interar cinco eu trago outro tatu-preto pro Sinhô.

Era bom negócio para Jerônimo que vendia caro ao doutor Adilson, tanto a bebida quanto a farofa de tatu e ainda proseava contando vantagem:

— Fui eu quem pegou. Peguei  debaixo do bigode da onça. A pintada vinha sentindo o tatu, os cachorros deram nela e eu saltei na caça.

Dr. Adilson pigarreou. Dona Angélica de Quadros desconversou:

— Neste quadro Adilson também gravou o nome dele.

Jerônimo fez-se desentendido.

—É... tive uma ponta de medo.

—Tamanduá-bandeira não tem medo de onça, disse zombeteiro o doutor.

— Apinajé morreu de que mesmo? Indagou Angélica.

— A mulher do vaqueiro de Cláudio morreu de parto.

Apinajé não tinha nome, mas deu nome ao marido Zenofre de Apinajé. E em dores de parto deu-lhe também Chanana, a última flor inculta e bela. Foi quando a filharada debandou de casa. Sete caburés de cabelos grossos, corridos, guiados por Adail, fundaram enfileirados na mata, como filhotes de perdiz, e depois de ziguezaguearem durante muitas luas, encontraram remanescentes Jês e lhes deram boas e más notícias: “Índia Apinajé casar. Ter muitos filhos. Índia morrer no parto de Chanana. Chanana morar com pai Zenofre, longe, longe muitas luas deste chão”.

João Velho viu urubu fazendo sombra no rumo da furna da onça. Foi ver. E viu. Viu o vaqueiro pendurado, balançando em um galho de pau-preto. Mal de Banzo, Zenofre morreu de tristeza, diziam. Outros vaqueiros e trabalhadores braçais migraram para a cidade, quando a viúva do fazendeiro vendeu os teréns e foi embora para o Rio de Janeiro.

Esta Obra está Registrada em nome do autor Adalberto Antônio de Lima sob o número 135897704703377000, o Certificado Digital de Direito Autoral atesta este registro http://www.textoregistrado.com.br/exibetexto.php?cod=135897704703377000&cat=textoreg

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