Antes de ti eu desconhecia o amargor do ódio;
antes de ti não tinha razões para sabê-lo;
até que surgiste, não sofria os golpes das batalhas exteriores
e conseqüentemente das interiores.
Despertaste em mim um sentimento
que envergonha e aniquila a decência;
que me faz rota de virtudes e me embala
ao compasso da ignomínia e da vileza (des) humana.
Impedes-me de usufruir a maneira
de viver como aprendi e ensaiei a vida inteira;
tiraste-me a oportunidade de escolher os caminhos; ceifaste-me as expectativas
e anulaste -me a esperança.
O amargor que no fundo da garganta hoje sinto
devo-o a ti, porém sei que igualmente o devo a mim,
quando, em face dos teus desmandos e desvarios,
permiti que ocupasses meu espaço;
que me limitasses os passos,
me obrigasses à entrega,
me capacitasses à aceitação.
Odiando-te, fiz por odiar-me também
ao odiar o sentimento de ódio que habita em mim
e que ora, profundo, nutro por ti.
Odeio-te
Amo-te
maria da graça almeida
Antes de ti eu ignorava o sabor do amor
antes de ti não tinha motivos para conhecê-lo,
até que surgiste, não percebia a bonança exterior
tampouco o frescor amigo da brisa interior.
Despertaste em mim um sentimento
que enobrece a alma e acalma as inquietudes;
que me fortalece as virtudes e me embala
sob a melodia do aconchego e da ternura humana.
Incitas-me a usufruir a maneira de viver
como desde a tenra infância desejei;
deste -me o direito de optar pelas próprias trilhas,
tiraste a sombra da melancolia
que velava meu coração ansioso.
A calmaria que experimento no fundo do peito
devo-a a ti, porém sei que igualmente a devo a mim
quando permiti que a magia do teu amor
me envolvesse plenamente;
quando pressenti a resplandecência de tua aura;
quando me dispus a desfrutar de tua interioridade.
Amando-te, fiz por amar-me também
ao amar o sentimento de amor que habita em mim
e que ora, eterno, alimento por ti.
Amo-te.