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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->5. JEREMIAS EM CAMPO -- 28/05/2002 - 05:40 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Para melhor compreendermos as atitudes do amigo de Fernando, devemos retroceder aos tempos em que ambos freqüentaram o terreiro da Umbanda.

Vimos qual era o interesse de Fernando. Jeremias não tivera qualquer razão para entrar em contacto com essa forma de espiritismo primitivo, como ele mesmo denominava o culto. Quisera ajudar o amigo a resolver um problema material, ao mesmo tempo que morria de curiosidade para conhecer os misteriosos segredos do Candomblé.

Segundo Fernando, se alguém obstasse o adversário de armar as falcatruas costumeiras, ele conseguiria o almejado contrato de fornecimento de material hidráulico, para grande construção na Capital. Jeremias avaliou moralmente o projeto de Fernando e não o considerou correto. Mas, se tudo saísse conforme a intenção do amigo, teria fortes motivos para acreditar nas forças sobrenaturais.

Em todo caso, tomaria o cuidado de nada prometer e de pagar todos os emolumentos que lhes fossem requisitados. Temia as represálias, acima de tudo. Não era assim que agiam as pessoas no comércio?

Filosofia à parte, estava cansado da Igreja. Queria algo mais palpável, mais seguro, menos horripilante que as chamas do Inferno. As confissões lhe eram muito onerosas, porque não se arrependia jamais dos pecados e os reprisava, com todo o prazer. Lembrava-se das loiras e das morenas...

Naquela altura, temia dar nome a elas, para não incentivar os seres do outro mundo. Padre Timóteo é que devia divertir-se com suas trapalhadas, embora se zangasse muito no confessionário. Eram terços e mais terços de penitência.

Se o terreiro lhe desse segurança...

Quando Fernando sugeriu que algo deveria acontecer contra o malfadado inimigo, Jeremias arrastou-o consigo e lá foram os dois, insipientes, arrostar as sensações fortes dos cânticos e atabaques.

O terreiro estava em festa. Castor e Pólux, como tinha gosto em chamar os gêmeos Cosme e Damião, agradavam as crianças. Os amigos forneceram guloseimas e acreditaram favorecer as divindades. A sós com o pai-de-santo, contaram a que tinham vindo. Mas disfarçaram, pedindo apenas proteção. O trabalho não deveria completar-se, se o outro lado estivesse inocente.

O negro que os atendeu não titubeou. Recomendou que trouxessem alguma peça de roupa da pessoa indicada. Se possível, um pouco de cabelo. O que desejavam conseguiriam facilmente. Bastava cumprirem o ritual de iniciação. Entrementes, jejuariam durante dois dias. Voltassem nos dias seguintes para presenciarem os trabalhos e receberem as bênçãos dos orixás. Haveriam de cativar a simpatia dos protetores da casa.

Não é preciso dizer que as exigências os assustaram. Voltaram mais três vezes, durante os trabalhos, e desistiram. Não era o que almejavam. Forçou-os o Padre Timóteo, no confessionário, à revelação dos desejos de consulta aos santos africanos. Jeremias ficou com a impressão de ter sido denunciado por Fernando, tanto que esfriaram os encontros, até a festa em que deu com a língua nos dentes, a poder de uísque.

Contudo, não perdeu o impulso de se afastar das execrações sacerdotais. Quem era aquele padreco para repreendê-lo? Além do mais, ficava-lhe à mão para as denúncias veladas junto à família e aos amigos. Era verdade que o sigilo do confessionário não seria quebrado, mas o padre era matreiro e jogava com os elementos para a persuasão das contribuições financeiras.

Ficou sabendo que João era espírita e kardecista. Estaria aí a solução?

Começou a interrogá-lo a respeito dos trabalhos dos centros espíritas. A princípio, João teve receio de dar-lhe conselhos. Finalmente, abriu o jogo e lhe levou O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Que lesse em segredo, para não ouriçar os familiares católicos. Se continuasse interessado, poderia ouvir as palestras que se realizavam no Centro Espírita Jesus de Nazaré.

Jeremias não conhecia nenhuma obra do gênero. Julgou muito difícil que tudo pudesse ser como se descrevia. Todavia, considerou a clareza das exposições e leu o livro até o fim. Nexo havia. Haveria verdade?

As longas palestras com João levaram-no a revelar-lhe a ida à Macumba. Julgava que o contador iria recriminá-lo. Nenhum aviso ou ponderação. Apenas disse para tomar cuidado com certas forças espirituais malfazejas, que se aproveitam das fraquezas das pessoas para incrementar os sentidos negativos dos pensamentos. Mas absteve-se de criticar os companheiros do terreiro. Aliás, preveniu-o quanto ao teor pejorativo do termo utilizado. Preferisse dizer, simplesmente, Umbanda ou Terreiro. Eram mais respeitosos.

Após ler, do mesmo autor, O Evangelho Segundo o Espiritismo, na mesma semana, julgou-se preparado para acompanhar João ao Centro.

Gozava de liberdade de locomoção, com a desculpa de que a televisão não o atraía. Tinha horários para o pôquer, para as corridas de cavalos, para as reuniões de emergência e outras atividades que o afastavam cada vez mais da família. Afinal de contas, os filhos, dois rapazes, não permaneciam em casa e a esposa fingia que tudo estava sempre muito bem. Diferente de Dolores, que não desgrudava do pé de Fernando. Falar a ele das loiras e das morenas, nem pensar...

Quando o amigo lhe referiu as aparições espirituais, imaginou a oportunidade de realizar uma boa ação. Se tudo desse certo, iriam ambos dar um pontapé no traseiro do Timóteo. Já fazia meses que freqüentava as reuniões públicas do Centro e tinha enorme curiosidade por presenciar uma sessão de auxílio espiritual e desobsessão. Tanto que começara a ler a terceira obra da doutrina, O Livro dos Médiuns. É verdade que não acreditava na metade das coisas que lia, mas o que estava acontecendo ao amigo era um achado.

Sendo assim, colocou João a par das dificuldades de Fernando e solicitou-lhe que o estimulasse ao desenvolvimento da mediunidade. Seria sua porta de entrada nos mistérios das reuniões fechadas.

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