Usina de Letras
Usina de Letras
251 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50555)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->9. O AVISO DO BENFEITOR -- 01/06/2002 - 05:32 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fernando não conseguiu prestar atenção à leitura. Parecia-lhe ter ouvido falar em amor ao Pai e aos semelhantes, mas, entorpecido, resolveu não perturbar o ambiente com pensamentos ruins, com temores infantis ou com desejos indefinidos. Aprendera, no terreiro, que a concentração dos médiuns é importante. Lá havia o barulho dos cânticos e a alucinação das danças. Aqui a tranqüilidade e a paz. Entretanto, não se lembrava de se ter deixado envolver por essa espécie de sonolência que o atacava agora. Enquanto pensava nessas coisas, sem muita consciência, ia dizendo um padre-nosso após outro.

Quando ousou olhar para o palco, as luzes tinham sido de novo apagadas, voltando a parca luminosidade azul. Mas dava para divisar os vultos das pessoas.

João convidou a todos para a elevação dos pensamentos ao Senhor e pediu assistência aos amigos da espiritualidade.

Imediatamente, um dos médiuns começou a falar:

— Graças a Deus!

— Bem-vindo seja, irmão! Que a paz do Senhor esteja com você!

— Irineu, o protetor do médium, pede licença para comparecer com palavras de incentivo aos trabalhadores evangélicos.

— Esteja à vontade, caríssimo benfeitor!

— Primeiramente, quero saudar a todos pela boa vontade de se apresentarem mais uma vez para o sacratíssimo contacto mediúnico. Esta seara de amor é que faculta aos seres do etéreo a possibilidade do desempenho doutrinário, em nome de Jesus.

Jeremias mexia-se na cadeira, impaciente. Queria algo mais concreto. Parecia-lhe que o médium repetia um discurso decorado. Tentou passar suas impressões a Fernando, mas este estava tão absorto na contemplação que não sentiu sequer o cutucão do amigo.

Irineu, prosseguia:

— Temos presentes amigos novos da espiritualidade, que nos pedem para que comuniquemos avisos de importância para os visitantes da noite. Em seguida, traremos três sofredores para serem auxiliados, pois se encontram desiludidos pela violência com que foram apartados da vida. Ao final, outro irmão irá responder às questões que se farão no íntimo de cada pessoa, sempre com a graça do Pai e de acordo como o roteiro dos benfeitores da casa.

Fernando conseguiu absorver todos os dizeres, como se estivesse absolutamente lúcido. Melhor dizendo. Como se toda sua capacidade de atenção se dirigisse exclusivamente para aquele ponto sonoro, esquecido de todos os demais sentidos.

— Dona Ana e o amigo Roque solicitam-nos que esclareçamos ao Senhor Fernando que estimariam receber preces suas, para que se afinem os pensamentos numa mesma faixa de onda favorável ao contacto intuitivo. Estimam que haverá proveito para todos, caso o amigo se desenvolva mediunicamente, sem resistências de caráter emocional. Para tanto, requerem que se inscreva no curso para médiuns desta ou de outra instituição espírita, efetuando os exercícios preliminares, sob o amparo dos protetores da instituição e através das leituras estabelecidas pelos orientadores encarnados. Não se incomodam que o amigo prossiga freqüentando a Igreja Católica, mas avisam que, por não considerarem pecados as diligências aludidas, que não se perca o amigo com sentimentos de culpa, o que ocorreria, com certeza, se denunciasse o fato no confessionário. Não se trata de rebelião religiosa, pois o Pai atende a todos os filhos, segundo o amor que consigam trazer nos corações. Quanto às pressões familiares e do círculo das amizades, que tenha o máximo respeito pelas convicções alheias, mas que seja muito firme na determinação de ir em frente no aprendizado superior, rumo ao socorrismo evangélico.

Fernando reparava que as suas observações é que iam conduzindo a exposição. Era suspeitar de que algo não ia tão bem na oratória e lá vinha a explicação concernente. Que fazer para compreender a importância dessa reviravolta na vida?

— Aceite a palavra de Jesus, segundo a qual ele não veio para unir, mas para separar, na augusta promessa de que todos irão juntar-se aos pés do Pai, em seu reino de amor.

Jeremias, estava ficando perplexo quanto à simplicidade dos dizeres. Evidentemente, não sabia do relacionamento telepático do amigo e começava a suspeitar de fraude.

— Quanto ao iniciado Jeremias, nosso conhecido, é preciso que confie nos atributos da mediunidade que se demonstram nesta mesa. Sabemos que, há tempos, vem desejando comparecer a uma reunião sigilosa. Não perca a oportunidade para unir sua freqüência vibratória à nossa, a fim de que possamos influenciá-lo no sentido da aquisição dos dons do mediunato. Suas leituras não foram muito convincentes, pois tem colocado descrédito em quase todas as informações que não seja capaz de vivenciar. Tomé também quis ver para crer. Contudo, nós não temos sequer a sombra dos dons exponenciais do Mestre, para lhe comprovar as nossas feridas. Limite-se a aceitar a palavra do Senhor, pela qual benditos são os que não vêem e crêem.

Fernando não conseguiu seguir a linha dos raciocínios da explanação dirigida ao amigo. Estava preocupado com os fenômenos físicos (telecinésicos) que esquecera de mencionar a João. Na sua mente, começaram a evidenciar-se razões e justificativas, claramente colocadas em pensamentos apropriados. Eram afirmações de energias espirituais, de fluidos cósmicos, de potencialidade magnética, que não conseguia coordenar de forma lógica. Mas se satisfazia com esse enevoado de sugestões, percebendo claramente que os da espiritualidade estavam começando a imantá-lo para as transmissões mente a mente.

Por seu turno, Jeremias compreendeu que levemente estavam a criticar sua atitude mais ou menos abúlica. Não sabia como tal vocábulo se imiscuíra em seus pensamentos. Mais ou menos inoperante. Mais ou menos insatisfatória. Mais ou menos prejudicial. As explicações sucediam-se rápidas.

Quis prestar atenção no outro médium, que incorporara um sofredor, mas o máximo que conseguiu foi ouvir que não admitia o espírito ter sido queimado vivo, no incêndio de seu automóvel. Quando Jeremias ia utilizar o termo animismo (com o sentido de fraude), o médium alterou o tom de voz e, como se fosse o benfeitor e não mais o atendido, pediu a todos que mantivessem elevado o padrão vibratório, para que as correntes de desconfiança não perturbassem o ambiente. Jeremias lembrou-se das noites da Umbanda e de seus temores em relação à freqüência energética negativa dos espíritos que lá compareciam e, instintivamente, cruzou os dedos, em claro sinal de proteção. O coitado estava sofrendo muito, vendo sua intimidade mental devassada. Será que sua aura estava acusando as desconfianças tão claramente? Passou-lhe pela cabeça que se precipitara, ao forçar o comparecimento àquela sessão. Lembrava-se do Padre Timóteo, das raspanças e dos terços. Será que todo mundo, no plano da religiosidade, comparecia para desacatar os seus sentimentos?

De repente, Fernando se lembrou de quem fora Dona Ana. Era a irmã de sua mãe. A tia Ana, é claro, que tantos brinquedos lhe dera na infância e que morrera na flor da idade, solteira e misteriosamente apaixonada por alguém cuja identidade levara para o túmulo. Será que fora pelo amigo Roque? Essa hipótese era plausível, já que se conheceram em vida. Mas Roque era casado...

Rodava-lhe a cabeça, no redemoinho das novíssimas impressões. Passou batido pelas demais incorporações e só sentiu a realidade ambiente, quando João anunciou a palavra do último orador.

De início, notou que as respostas prometidas não se endereçavam às pessoas individualmente. O discurso era mais uma exposição evangélica, eivada de citações bíblicas, até do “Velho Testamento”. Chegou a citar Jeremias, notando que o deus dos exércitos nunca chegou a caracterizar o crescimento das civilizações, embora prometesse uma Nova Jerusalém. Calara o médium judeu as informações que não entendera, como ainda desvirtuara outras, em função de interesses pessoais. Não fizessem o mesmo os irmãos da mesa (ou os que viessem a ocupar lugar ali), para não incitarem os menos favorecidos a que venham para perturbar as comunicações. Lembrassem das orientações a Kardec, segundo as quais os bons se afastam quando não conseguem influenciar a mentalidade dos servidores. O apanágio mediúnico, concluía, está na integral retransmissão das palavras de conforto e sabedoria dos espíritos mais elevados. Terminava agradecendo a atenção e rogando a Jesus suas bênçãos e graças, para que todos voltassem para casa nimbados de espiritualidade.

João fez a prece final e as luzes se acenderam, para os comentários dos trabalhadores. Em pouco tempo, Jeremias e, principalmente, Fernando foram alvo da curiosidade de todos. Queriam saber quem eram eles que tanto amparo haviam alcançado dos benfeitores, logo da primeira vez. João exultava de alegria, mas, consciente do despreparo dos visitantes, buscou afastá-los dos demais, utilizando como desculpa a necessidade do preenchimento da ficha de associado para Fernando.

— Amigos, cuidado com as conseqüências das conclusões apressadas. Não se esqueçam de que o benfeitor pediu aos irmãos que viessem ao Curso de Médiuns...

Recolhidos os dois à secretaria, João pôde confabular mais à vontade com os demais. Prevenia-os quanto aos surpreendentes dizeres ouvidos naquela noite, especialmente porque o médium de que se utilizara o orientador não se recordava de nada. Mais impressionados ficaram quando descobriram que nem os nomes dos ingressantes lhe foram dados a conhecer previamente.

— Que belo é o espetáculo da mediunidade sagrada!

— Quanto amor tem por nós Jesus Nazareno!

— Que felicidade poder partilhar desta mesa consoladora!

— Graças a Deus, podemos ter a certeza do amparo dos irmãos da espiritualidade!

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui