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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->12. PRELIMINARES -- 04/06/2002 - 05:26 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fernando se perguntava por que motivo não tinha entrado em contacto com Jeremias, para combinarem a tática contra as investidas do padre. Parecia-lhe que não seria natural agir em consonância com rigorosa programação. Se o padre evidenciasse que estava certo, não haveria o que contrapor. Se demonstrasse estar errado, não encontrava razão para discutir. Em suma, qualquer coisa que se dissesse não afetaria o seu ponto de vista espiritual. De resto, os fenômenos transcendentais que vinha experimentando não admitiam as explicações católicas. Possivelmente, os demônios é que estariam por detrás de tudo. Ou certas forças ocultas, cuja natureza o homem ainda não conseguira decifrar, como explicaria a parapsicologia. Enfim, não estava preparado para cerradas argumentações. Agiria pelo coração.

Sua maior preocupação pela manhã fora o sonho das últimas três horas de sono. Para espanto seu, voltara a sentar-se no auditório do Centro Espírita e presenciara as três incorporações dos sofredores. Durante a sessão, não pudera observar os fatos, envolvido pelas sensações íntimas provocadas pela sonolência ou imantação (começava a absorver os termos técnicos) e pelos dizeres que lhe foram dirigidos.

Queria acreditar em que pudesse estar passando por enorme série de alucinações, mas as presenças da tia (confirmada pelas fotos, inclusive pela vestimenta que portava) e do ex-colega eram muito palpáveis, para serem negadas.

Na loja, apesar dos inúmeros afazeres, de quando em vez lhe vinha à lembrança a necessidade premente de ler os livros doutrinários. Estranhava que não lhe tivessem dado ou vendido ou indicado nenhum deles. Se Jeremias já os tivesse lido, não seria lógico que lhe tivesse fornecido?

Lembrou-se de que, na quinta-feira, deveria voltar ao Centro. Era o dia do Curso de Médiuns. Se esperara tanto tempo para interessar-se por tais assuntos, dois dias a mais não fariam diferença.

Os sofredores atendidos não tinham tido nenhum conhecimento da doutrina dos espíritos e morreram na fé em que viveram. O etéreo lhes parecia absolutamente incongruente. Acusavam Deus de injusto. Ou a Morte. Ou a Religião. Não sabiam bem contra quem endereçar as queixas. Diziam que o sofrimento era muito grande e que conservavam a sensação da morte. Um deles referia-se ao ardor da pele, por ter morrido queimado. Outro queria encontrar certa pessoa que o “ajudara” de modo violento a cruzar a linha divisória dos planos. Todos os sentimentos se mantinham intactos, como se não houvesse qualquer interrupção. O terceiro nem sabia que estava morto. Foi uma luta para fazê-lo entender a nova situação.

Recordando-se do momento da sessão em que se perdera em conjecturas morais e filosóficas, lembrava-se vagamente dos diálogos dramáticos, como se no palco se representasse um ato da própria existência. Entretanto, o sonho estava tão nítido, como se a peça estivesse sendo exibida novamente. E aí não havia hesitações da memória.

Fernando chegou a pegar no telefone para avisar Jeremias a respeito do almoço. Mas ponderou que, naquela altura, devia estar coagido pela mulher ao comparecimento. A mentira da ida ao Jóquei Clube atormentava-o. E se Jeremias não confirmasse? Tanto pior, iria revelar onde estivera, sem rebuços.

Olhando para o interior da loja, deu com Joaquim disfarçando interesse pela arrumação das peças sobre o balcão. Percebeu, quando desviou, que deveria estar mantendo atenção nele. Será que o estapafúrdio estaria a serviço de Dolores, para observar-lhe os movimentos? Lembrava-se de tê-lo visto muitas vezes na igreja, durante a missa. E dos efusivos cumprimentos à saída. Até convidado tinha sido para diversas datas de confraternização social, na residência de Jeremias. Sabia que fora empregado na loja de confecções do amigo e que de lá saíra, incompreensivelmente. Não fora a recomendação insistente de Jeremias, talvez não lhe tivesse dado o emprego, tão desagradável o achava, com aquele jeito esquivo de fazer as coisas. Mas era excelente balconista, experiente, já com mais de quinze anos de vendedor.

Olhando pela vitrina, viu uma senhora a observar o mostruário. Quis testar o empregado:

— Joaquim, veja o que a senhora deseja, lá na frente.

— É pra já, patrão...

Joaquim não se recordava de ter sido solicitado antes para simples curiosidades dos passantes. Será que haveria mais algum fantasma?

Daí a pouco, entrava, trazendo a mulher para mostrar algumas peças de cerâmica. Não fecharam negócio, mas a atitude do vendedor rendeu-lhe agradecimentos e elogios pela deferência da atenção. Se precisasse, voltaria.

Fernando ficou contente, como se estivesse justificando a ilusão do dia anterior. Queria reconstituir a credibilidade junto ao subalterno. Se estivesse na mão da esposa, não lhe denunciaria a insegurança metafísica.

Sorriu com o desenvolvimento das idéias. O pobre balconista, por certo, não teria noção do que lhe ia pela cabeça.

Voltou a pensar em ligar para o amigo. Desistiu logo, à vista do adiantado da hora.

Que tormento mais tolo! Desse no que desse a entrevista com Timóteo, jamais iria querer passar para o outro lado da realidade tão ignorante quanto as pobres entidades da sessão. Desconfiava de que suas vibrações estavam adequando-se para o contacto mediúnico, tanto que a prece que fez antes de dormir fora eivada de solicitações de esclarecimentos. Aborrecia-se com a mentira do Jóquei Clube...



Dolores e Maria levantaram-se para permitirem que Timóteo e Fernando ficassem a sós. Com a saída inesperada de Jeremias, a presença de Maria tornara-se empecilho para as apreciações que se aguardavam. Afinal de contas, Joaquim tivera sido muito útil no desvelamento do paradeiro de ambos na noite anterior. Jeremias havia conseguido influenciar Fernando.

Não demorou para Maria ser avisada de que alguém queria falar-lhe ao telefone:

— Os fiscais estão vistoriando as faturas de compra e venda e querem conversar com seu marido.

— Qual é o contador que está aí?

— É o Eduardo.

Maria não sabia quem era.

— É um mocinho novo do escritório do “Seu” João.



Na sala de estar, Fernando orava intimamente que os espíritos lhe dessem orientações, para não se sentir perdido perante o padre. Queria sair-se bem, para não comprometer o relacionamento conjugal. Não gostava de ver Dolores refratária aos carinhos. O que não daria para vê-la ir com ele a sessão no Centro...

— Então, meu caro, o que você foi fazer, ontem, naquela casa do Demônio? Será que vai querer ganhar algum novo contrato, às custas do Maligno?

Timóteo atacava de rijo.

— Meu bom Padre Timóteo, que é que o Senhor tem de ver com isso?

Fernando desconfiou de que as mulheres estavam atrás da porta, ouvindo a conversa. Levantou-se, atravessou a sala e, ex-abrupto, deu de cara com as duas.

— Por favor, entrem. Temos alguns assuntos para pôr a limpo...

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