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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->14. PLANOS PARA O CONTRA-ATAQUE -- 06/06/2002 - 05:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Se Fernando tivesse ficado em casa, talvez o relacionamento com a esposa desandasse de vez. Entretanto, saindo sem deixar a discussão descambar para as grosserias insensatas das acusações mútuas, deu margem a que os que ficaram imaginassem que seria fácil estabelecer certa pressão psíquica, para reassumirem o controle da situação.

— Padre Timóteo, que fazer?

— Boa amiga, Deus saberá providenciar, para que o Espírito Santo nos inspire a melhor maneira.

— Mas Fernando está cego para as verdades da Igreja...

— Pelo que pude observar, está momentaneamente insano, embora o raciocinar lhe esteja sendo despertado na justa medida das respostas às questões que propomos. A Senhora não observou que, apesar das invectivas que me dirigiu, conservava absoluto domínio das reações emocionais?

— Eu achei que estava muito nervoso.

— Eu concordo com Maria. Ele nunca falou tanto, em tão pouco tempo.

— Pois aí é que está a chave do mistério. Apesar do controle, sentia muita ansiedade. Queria fazer-nos crer que qualquer coisa que disséssemos não iria aceitar. É preciso, pois, cercá-lo com cautela. Ir aos poucos. Exagerada ofensiva, nesta hora, poderá fazê-lo firmar opinião contra a nossa boa vontade. Nós somos o inimigo. Vamos fazer que os do centro espírita se tornem (como são, na realidade) aqueles contra quem deva voltar-se.

— Ele nunca foi de grandes entusiasmos. Como é que agora está tão decidido?...

— E tão mal-educado!

Maria esforçava-se para manter a calma. No fundo, gostaria de sacudir a companheira para que desafiasse o marido. Timóteo estava sendo muito complacente. Lembrou-se do confessionário e calou-se. Poderia ser que o confessor tivesse cartas escondidas, para jogar na hora certa. Afinal de contas, com elas presentes, o sacerdote não poderia quebrar o sigilo da confissão.

— Será que Jeremias irá adotar a mesma tática contra mim?

Timóteo não estava querendo desviar o assunto. Era prioritário desfazer as más impressões deixadas pelo anfitrião nas mentes das senhoras. Emendaria um tema ao outro:

— Jeremias, pelo que me foi dado observar, não está preparado para enfrentamentos tão sérios. Se respeitarmos o seu desejo de não comer carne (Dolores percebeu a origem do interesse da companheira em não incomodar o marido), irá aceder nas recomendações de continuar freqüentando a missa. Para ele, os meus sermões oportunos. Quanto a Fernando, pelo que pude depreender, irá afastar-se totalmente da Igreja e de mim. Talvez algum padre mais jovem, desses que querem que os pobres assumam o poder da nação, que querem tirar de quem tem para transferir a quem não tem, deixando todos igualmente miseráveis (inclusive a Santa Madre Igreja), desses cujas idéias revolucionárias adentram pelo plano das considerações filosóficas e teológicas, possa fazer que Fernando reflita que tudo o que os espíritas fazem com reduzidos recursos, os católicos podem realizar com redobrado poder econômico e com totais condições de infra-estrutura.

Tirou os óculos e limpou-os com o lenço. Dava tempo para que as palavras repercutissem na mente ou no coração das duas. Escondia-as de seu campo de visão, pois precisava voltar à carga, caso não dessem mostras de atendê-lo. Ganhava tempo. No fundo da consciência, perguntava-se se valia a pena insistir com Fernando. Que fosse queimar nas chamas do Inferno! Ou fazer estágio nos crematórios purificatórios! Ousado! Pilantra! Mas a hora não era para desabafos pessoais. Deveria manter a postura da superioridade eclesiástica. Se demonstrasse fraqueza, a comadrice toda iria ter o que falar a seu respeito...

— Hoje mesmo vou dizer ao meu “maridinho” que sua representação não passou de “blefe”.

— Pelo amor de Deus! Não faça isso!

— Mas, Padre, ele foi muito desrespeitoso para com o Senhor...

— Não tem importância. Quando se arrepender, irá desculpar-se. Eu sei que está fazendo o que julga honesto, de acordo com seus pruridos de justiça social. Ele ganhou o acordo comercial com o Governo?

— Que eu saiba, não!

— Essa pode ser a origem da rebelião. Talvez pense que Deus o tenha desamparado. Que a Igreja não lhe dá a devida proteção nos negócios. Tantos saem da Verdadeira Religião para ingressarem nessa seitas protestantes, ditas evangélicas. E para quê? Para conseguirem progresso material. Quanto mais pobres, mais fáceis de serem iludidos. Fernando é rico, mas deve estar passando por dificuldades nos negócios. A economia está mudando tanto que, talvez, queira reequilibrar as finanças. Aí se compreende que deseje que as forças infernais o apóiem. (— Deus nos livre! — disseram e se persignaram, em rápidos movimentos.) Eu tenho meios de saber. Pode deixar que vou providenciar os dados, junto a pessoas capacitadas.

Maria imaginou que Timóteo “confessava” os gerentes de bancos. Só assim para ficar conhecendo em que pé iam os negócios.

— Que deverei fazer, hoje à noite?

— Essencialmente, um jantar bem caprichado. Homem de barriga vazia é um perigo. E ouvir tudo o que ele tenha a dizer, sem discussão.

— Mas...

— Esse “mas”, querida amiga, é que é o ponto a ser contornado. Ouça tudo o que ele tem a dizer. Se for preciso, concorde com as determinações. Se pedir-lhe para se afastar da Igreja, concorde em ir à paróquia do Padre Eufrásio. Se quiser arrastá-la para o centro, não aceite, terminantemente, mas não precisa brigar nem acusá-lo de nada. Faça de conta que acredita nas novas convicções. Fernando não deu tempo para ser convencido inteiramente. Pelo que sei, não leu nada...

Maria compreendeu a alusão a Jeremias. Será que sua luta iria ser ainda maior? Pela conversa que tivera com Timóteo, este não a fizera sentir-se tão mal quanto a Dolores. Parecia-lhe que o marido estava muito mais nas mãos do confessor.

— E o que vai acontecer, se eu concordar com que ele vá ao centro? Devo esperá-lo com a comidinha predileta?...

Timóteo se fez de desentendido quanto à ironia. Queria compreender as razões íntimas de Fernando. Como não iria tê-lo no confessionário, pelo menos que Dolores lhe extraísse o máximo de informações.

— Conversem as duas o restante da tarde. Eu preciso providenciar algumas coisas. O almoço estava muito bom. Pena que tenhamos perdido a sesta. Fiquem agora com Deus!

Solenemente, com toda a dignidade, o sacerdote fez o sinal da cruz na direção das pupilas e lhes deu o crucifixo a beijar, como que encerrando a audiência. A lembrança da sesta lhe acendera o desejo de estar em casa.

As senhoras acompanharam-no até a porta, agradecendo muito e desculpando-se envergonhadas. Parecia-lhes que os pecados dos maridos as arrastavam para as chamas infernais.

Timóteo não ouviu a voz para que chamasse um táxi. Entrou no seu automóvel, fez um gesto largo para tranqüilizar as ricas paroquianas e saiu devagar, sabendo que a visão não o recomendava como motorista. Lá no fundo da consciência, mordia-se de raiva pela afronta. Esperassem. Não iriam perder. Se não os alcançasse, é porque Deus o faria...

Se tivesse ficado a vigiar a casa, teria visto Maria sair em seguida.

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