Usina de Letras
Usina de Letras
136 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62071 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Textos_Religiosos-->A dor que sofremos pela intolerância do outro e a nossa ... -- 07/01/2009 - 13:57 (Etiene Sales de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A dor que sofremos pela intolerância do outro e a nossa própria intolerância.

Nos últimos dias eu tenho acompanhado a dor do povo de Umbanda e do povo do Candomblé em relação as diversas denúncias de intolerância contra esses dois conjuntos religiosos.

Também acompanhei o movimento que se formou, em termos de uma comissão, para levar as denúncias publicadas no Jornal Extra (Rio de Janeiro) dos
dias 15 `a 17 de março. Essas reportagens mostraram que grupos Evangélicos Independentes, associados com traficantes de diversas comunidades no Rio de Janeiro, forçaram o fechamento de diversas casas de Umbanda e Candomblé, e proibiram manifestações de símbolos de fé e práticas desses dois conjuntos religiosos.

O mais interessante de tudo isso, dessa minha "saída" do meio da Internet (são mais de 11 anos lutando a favor de uma Umbanda unida,
diversa e plural) para o meio Real, é que estou encontrando os mesmos problemas de intolerância intra-religiosa que tanto combati na Internet
nesses 11 anos; ou seja, o preconceito do Umbandista contra o próprio Umbandista, e do Umbandista contra os Candomblecistas, não é algo
limitado a Internet, mas uma realidade em que a Internet só facilitou a sua visualização.

Em uma época em que a Umbanda e o Candomblé sofrem cada vez mais ações de preconceito e discriminação, fora as diversas perseguições de algumas denominações Evangélicas (seja através de relações ilegais com o tráfico, seja por ataques nos meios de comunicação: rádio e televisão,
principalmente), os Umbandistas não conseguem perceber o seu próprio preconceito interno e contra os Candomblecistas.

É estranho o Umbandista gritar contra o preconceito que sofre por parte de outras religiões, mas não conseguir enxergar o preconceito existente dentro da própria Umbanda. Preconceito esse que não é recente e que
pude ser visto no Primeiro Congresso Umbandista em 1941. Ou seja, estamos a mais de 60 anos brigando, agredindo, criticando, condenando,
ridicularizando o que o outro faz como sendo Umbanda, principalmente se essa Umbanda sofre influencia Africanista e do próprio Candomblé (assim como de outras origens).

É triste ver quanto preconceito existe em um conjunto religioso como é a Umbanda, que se diz caridoso, que ama o próximo, que cultiva a paz, que diz respeitar as outras religiões, que diz procurar a evolução espiritual... Mas, quando alguns tantos se deparam com outras formas de
práticas, ritos, doutrina e fundamentos de Umbanda diferentes dos seus, parece que todos esses valores positivos e o amor pelo próximo "vai ralo a baixo".

Parece que não estamos aprendendo nada com a dor que estamos passando sendo vítimas de perseguições e discriminações (externas), pois se
estivessem aprendendo, não seríamos tão preconceituosos entre nós mesmos, não seríamos tão cruéis com quem pratica uma Umbanda diferente
da nossa, não seríamos tão hipócritas em apertar a mão de um irmão e, no momento seguinte, destilar o veneno de palavras, como: "aquele ali faz Umbandomblé", "aquele ali usa práticas africanas, coisa de gente do Candomblé"... e tantas outras frases tão preconceituosas como aquelas utilizadas na mídia, que chamam os Umbandistas de "Pais de Encosto",
"Endemoniados", "Filhos de Satanás", "Capetas", "Povo sem Deus" ...

Enquanto não soubermos nos respeitar e dar valor uns aos outros, nos respeitando incondicionalmente, independente da forma de Umbanda que praticamos, nunca seremos respeitados por ninguém. Nunca alcançaremos uma união (a qual hoje é extremamente necessária) de fato, para
assegurar a sobrevivência daquilo que praticamos como Umbanda, e da Umbanda como um todo.

Condenar qualquer forma de Umbanda, seja qual for, é condenar a sua própria, pois ninguém tem a verdade de uma religião e se nenhuma
religião é a verdade, todas são verdadeiras naquilo e para quem dá a ela seu valor, sua fé, exerce aquela crença. Sendo assim, se nenhuma
religião é a verdadeira verdade, a verdadeira fonte de Deus, mas sim que todas refletem a força divina a sua maneira, da sua forma doutrinária e
de fé, como dizer que uma forma de Umbanda é errada diante de outra?

Estamos a mais de 60 anos lutando dentro da Umbanda contra nós mesmos.
Seja criticando o que o outro faz (em fez de tentar entender o que o outro faz), ou tentando codificar e homogeneizar a Umbanda naquilo que
fazemos e pensamos que ela tem que ser, sem levar em consideração o que os outros fazem: "nós estamos certos e os outros é que estão errados".
Porém, não é isso que vários grupos Evangélicos fazem com relação a Umbanda? Estamos lutando contra um discurso, sem enxergar que estamos
utilizando este mesmo discurso, esse mesmo senso de apropriação da verdade, entre os próprios Umbandistas, na procura de codificar,
homogeneizar, formatar a Umbanda a uma única e verdadeira forma.

Em minhas pesquisas e naquilo que pratico como Umbanda (Umbanda de preto-velho), sempre procurei fazer ver as pessoas que só iremos
sobreviver se formos unidos (não unificados), se nos respeitarmos mutuamente (independente de nossas práticas rituais), se nos aceitarmos
em um entendimento de conjunto religioso, em que cada forma de Umbanda têm seu valor, têm seu espaço, têm suas origens, têm seus ritos, têm sua
doutrina, têm seus valores de verdade no que pratica e para quem pratica, sem com isso, ser o todo Umbandista.

Devemos aproveitar esse momento de oportunidade divina, mediante a adversidade da intolerância de outras religiões, para acabar com as
nossas próprias intolerâncias internas. Devemos aproveitar o momento para criar uma união de fato. Algo lento e gradativo, mas que é
necessário a nossa existência, pois necessitamos muito uns dos outros, pois unidos seremos fortes, desunidos seremos sempre presas fáceis e
frágeis, mediante a qualquer conflito que nos cerque.

O alerta foi dado mais uma vez, espero que alguns pensem e reflitam.

16/04/2008

Etiene Sales
Sacerdote Umbandista.
Bacharel em Administração.
Especialista em Análise de Negócio e Cultura Organizacional.
Pós-graduado em Ciências da Religião.
Escrito e pesquisador sobre Umbanda.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui