A dor de dente
Era um dia de muita chuva e Bidião estava incomodado por uma forte dor de dente que ameaçava a firmeza de um sacerdote austero no movimento de evangelização Bidiônica. Ao contrário de seus antecessores, nunca teve a pretensão de moldar a fé e muito menos construir fogueiras aos revolucionários de plantão. Voltando a dor do dente, ele se viu em apuros pois tratava-se de dente de leite representando a criança que resistia bravamente ao adulto, agora sacerdote. Procurou o auxílio de um protético que insistiu em arrancar sua marca de infância. Entretanto, o adulto não permitiu tamanho holocausto dentário e recorreu a um pajé de uma tribo próxima ao vilarejo que utiliza a sabedoria milenar das ervas naturais. O pajé então iniciou os trabalhos de maceração de erva cidreira, com algodão embebido em sumo de folha de hortelã. E lá pras tantas, iniciou um ritual de chamamento de antigos pajés que serviam de socorro quando alguma doença assolava a tribo. Bidião implorou por tudo que não removesse seu dente de leite, por se tratar de uma relíquia de bons tempos de menino de calça curta. Os dias passaram e as Dores minimizaram, harmonizando enfim, a criança e o adulto, a alegria e a seriedade, o lúdico e a resposta, a liberdade e a prisão.
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