Bandoleira estrangulada
Fim de madrugada. Alvorada no horizonte.
O sanhaço cantava no galho do cajueiro e a água do Rio Jangal desembocava na lagoa azul.
Um pé de goiaba postava-se na beira da lagoa. No pau da goiaba, um outro sanhaço cantava. Na moita que se avizinhava, o zaralho cagava no pau de jacarandá seco—melindrado. Precisava limpar-se. Ao redor, folhas de urtiga—somente. Sabia que a água era estranha, ácida—de baixo P.H. Avistou uma tora de madeira na beirada da lagoa. Zaralho, dirigiu-se a ela, com as calças arriadas. Despiu-se por completo, pisou a margem, afundando no barro os pés descalços. A água gelada arrepiou seus pelos, fazendo-lhe encolher os bagos. Urtiga ou água ácida? A segunda opção seria menos catastrófica. Como é complicada a vida de um cagalhão! Caminhou rumo ao fundo. Água no nível dos joelhos—molhou os pulsos e a nuca. Três passos adiante, água no peitoral—congelando.
Ofegante, bateu pernas e braços. De nada adiantou. Foi até o talo.
Fora engolido pela lagoa azul.
— Onde estou? — perguntou ao ser iluminado.
— No purgatório, ora!
— E o que me resta agora, senhor?
—Simples, meu filho: —Tá no inferno, abraça o capeta!
E o diabo, empolgado, deu-lhe um abraço apertado, estrangulando, sem piedade, sua alma bandoleira.
Rio de Janeiro, 07 de outubro de 2017.
Por Leandro Tavares
|