O QUE FAZER DURANTE UM APAGÃO...
(Por Germano Correia da Silva)
O crioulo Murundu é um sujeito de compleição física avantajada que mora nos arredores da vila Macambiras, próximo a Cafundó do Judas, que afirma com todas as letras que não tem medo de nada. Isso é o que ele fala, mas pelo que foi apurado através de comentários das más línguas local, ele morre de medo de ficar à noite em ambiente com ausência total de iluminação.
Ultimamente, depois de um apagão que ocorreu lá na sua vila, ele tem andado bastante nervoso e quase obcecado à procura de um culpado para ser responsabilizado pelo incidente. Há quem diga que ele anda cuspindo marimbondo à procura de alguém que assuma a culpa pelo problema ocorrido ou talvez quem possa servir de bode expiatório.
Numa dessas suas investidas visando à investigação do ocorrido ele foi parar no sítio do Seu Nicanor, seu amigo fiel, e durante o almoço ele não perdeu tempo e comentou que o tal apagão só aconteceu lá na sua vila:
- Seu Nicanor, eu nunca vi algo parecido antes. Todas as pessoas da minha comunidade ficaram às escuras, durante a noite toda, e até agora ninguém fez nada para descobrir quem foi o responsável pelo problema. Esse nosso povo está muito pacato. O que o senhor tem a me dizer a respeito?
Seu Nicanor que já conhece o temperamento explosivo desse seu amigo ficou calado o tempo todo e o crioulo Murundu acabou perdendo a calma:
- Seu Nicanor, fale alguma coisa. Esse seu silêncio não é normal. Pelo que vejo aqui onde o senhor mora não houve nenhum apagão e mesmo que tenha havido parece que o senhor não se importa de conviver com o apagão e nem com as suas conseqüências...
- Eu ligo para o apagão e para as conseqüências dele, mas isso não irá impedir que tenhamos a ocorrência de outro qualquer dia desses – disse o Seu Nicanor, com ar de pessoa muito preocupada.
Murundu estava crente que logo encontraria o culpado. A raiva dele era tão grande naquele momento que fez com que ele rangesse os dentes, estufasse o peito e dissesse em alto e bom som:
- Meu amigo Nicanor, se eu não encontrar o culpado pela última falta de iluminação ocorrida na minha vila e por essa que o senhor disse que estar por vir, eu vou morrer roxo de raiva!
- Murundu, você já está ficando roxo... Olha só a cor da sua pele! – disse Seu Nicanor fazendo uso de uma lanterna para enxergá-lo melhor.
- Eu sei meu amigo, eu vou ter que me controlar... Já é noite e, por incrível que nos possa parecer, estamos diante de outro apagão...
- Fiat lux! Fiat lux! Fiat lux!
De mãos postas, ambos os amigos imploraram aos céus e, como acontece num passe de mágica, o apagão foi embora...