Volte pra mim
maria da graça almeida
Volte pra mim, sorria,
faça um esforço, tente essa via.
Veja, o espelho envelheceu,
olhe pra mim, reconheça-me, sou eu.
Meus sapatos estão rotos demais,
a saia que me cobria os tornozelos
fez-se pequena, proibiu-a, o pai,
disse-me que ora diminuta
exibe- me até os joelhos-
os mesmos joelhos já ralados
pelas travessuras meninas,
que agora se queixam, calejados,
das rezas e ladainhas-.
Ainda assim trago firme
a vontade e a tola vaidade
de enredar-me feminina,
mesmo sentindo a saudade
das canelas fininhas
que conduziam, brejeiras,
a poeira vermelha
das velhas botinas.
Perceba, o vento inda é aquele
e descabelado varre as ruas
com a mesma euforia,
porém, o tempo, engravatado,
nem mais tem tempo
de acalentar-me as fantasias.
Então venha, faça um esforço,
tente essa via, volte pra mim,
sorria!
maria da graça almeida
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