A paisagem ao redor é desoladora
e, associando um céu cuja escuridão esmagaria de forma tão rápida quanto
inclemente qualquer esperança que um mortal pudesse nutrir ao fatalismo daqueles
que a completam, forma uma visão que poderia ser descrita como a própria
encarnação do inferno. Anjos com braços e pernas esticados encontram-se
pendurados no firmamento e, ao redor deles, tudo ecoa dor, desilusão, perda e uma
triste ansiedade, como se esperassem pelo cumprimento de sua pena após um
pecado que ainda não foi exposto a quem acaba de ser apresentado ao cenário
atual.
Em seus olhares, apenas a dor de
quem se indaga por que haveria punição por amar. Por que o prazer que a criação
de seu Pai Eterno poderia lhes proporcionar deveria lhes ser negado apenas por
um simples capricho do Mesmo, embora ao seu redor ainda houvesse aqueles que se
mostrassem dispostos a enfrentar o que quer que viesse dali em diante, como se
tudo de que tivessem usufruído antes daquele momento pudesse servir de consolo
pela punição que estivesse a ser ministrada.
Ao seu redor eis que surgem,
então, seres de togas pretas, que poderiam ser chamados de outros anjos a
julgar pelas asas que ostentam. Rapidamente estes desembainham espadas de fogo
e, com uma hesitação contida, caminham até os companheiros pendurados como se
esperassem, no último minuto, que um ato de clemência os poupassem de cumprir
sua missão atual. Esperança que logo é vencida pelo medo de fatalmente se
juntarem àqueles cujas sentenças hoje foram incumbidos de executar.
O desespero toma forma e se junta
ao conjunto da obra, formador do cenário atual, quando gritos de agonia
incontida passam a ser ouvidos em tons que variam do mais grave ao mais agudo,
no momento em que os togados passam a utilizar suas espadas de fogo para
arrancar as asas dos companheiros presos, par após par, e depois passam a
emascular um a um, como castigo por falharem em se privar da luxúria claramente
proibida. Alguns, em momento de dor, chegam a se arrepender da desobediência,
outros estão tão atordoados que não conseguem sequer lembrar-se do motivo de
estarem ali, enquanto o som dos gritos disputa com a cena que se presencia qual
dos dois seria mais aterrador, ou se o conjunto dos dois atos seria um só.
Então, finalmente, suando frio e
sem conseguir conter o susto, Rafael desperta. Ao ver o quarto, ainda escuro,
ele fecha mais uma vez os olhos e agradece por estar ali, descendo as mãos até
o membro como se precisasse se certificar que ainda se encontrava onde deveria.
Talvez pelo susto a ferramenta, de tamanho invejável, agora se encontra mais
encolhida que de costume. Ele logo se refaz do susto, a respiração, aos poucos,
volta ao normal e ele começa a se indagar de onde teria saído a inspiração para
um sonho tão infeliz. Por que a punição? E como anjos poderiam estar castigando
outros anjos, o que os teria levado a isso? Ironicamente, ele se vê pensando
sobre um assunto que sequer lhe despertava interesse, haja visto que não se
preocupa nada com o mundo espiritual.
Rafael não acredita em Deus. É um
ávido leitor de assuntos como magia negra, satanismo e do próprio cristianismo,
bem como outros assuntos que dizem respeito à espiritualidade, mas apenas a
título de curiosidade. Sempre ouviu falar que seus músicos favoritos liam de
tudo e achava interessante seguir o mesmo caminho que eles, saber a origem
daquilo sobre o que cantavam ou os direcionava em suas vidas pessoais.
Diferente de seus amigos, ele possui uma capacidade de aprendizado sem igual e
bastava acompanhar as aulas, sem necessidade de se matar de estudar, para
conseguir tirar as melhores notas. Em média não leva mais que dez minutos para
fazer uma prova, quando demora tanto. E, notoriamente superior aos amigos, no
tocante ao físico, faz sucesso com as mulheres, procurando tirar proveito disso
de todas as formas possíveis. Procura sempre as parceiras mais do que uma vez,
mas também não se incomoda quando o sexo ocorria uma vez só. Romantismo,
relacionamentos fixos, sentimentalismo, para ele, são coisas para os outros. A
mulher pode amar o sujeito, dizer que o sexo não é o principal mas,
ironicamente, é quando o sexo falha que as traições começam. Sua grande
referência são as mulheres casadas com quem saiu e que, depois de passarem
tardes fazendo com ele coisas que nem sonhariam em fazer com seus maridos,
voltam pra casa como se nada houvesse acontecido e sempre deliciosamente
alargadas. O casamento impede encontros frequentes, pra não dizer que todas são
unanimes quando o assunto era o tempo que precisam ter de intervalo antes de
encontra-lo de novo.
Pegando o celular ele começa a
olhar a agenda e os nomes das mulheres. Na maioria das vezes espera que elas
telefonem para que assim nenhum namorado ou marido possa acabar atendendo e
comprometendo seus esquemas. Ao contrário do que a maioria dos homens pensam
elas não hesitam em ligar para o homem que, direta ou indiretamente, as
fascinou, seja da forma que for. E a partir do momento que este fascínio
desperta curiosidade, não vai haver marido, compromisso, dogma religioso ou o
que quer que seja que as impeça de fazer aquilo que têm vontade. E, se
estiverem curiosas o bastante para dar o primeiro passo, elas o farão. E se com
isso o sexo for bom, o orgasmo for intenso e ficar claro que não serão
comprometidas ou terão qualquer problema com isso, você arruma diversão e lazer
pra uma vida toda. Não existem convicções quando se existe desejo, exceto
aquela de que tudo feito para satisfazer a vontade será feito.
Ele vê vários nomes que lhe trazem
lembranças boas em particular e os anjos logo saem de sua mente. Ângela, uma
garota da escola que, como outras, já havia ouvido falar dele e acabou usando
de uma tarde em que estavam na biblioteca fazendo um trabalho de escola para
prestar-lhe favores ali mesmo. De cabelos negros e olhos verdes, ela o
enlouquecia e Rafael achou que tinha acertado a sorte grande naquela tarde. Ela
achou que não conseguiria consumar o ato ali, apesar do tamanho da biblioteca e
da pouca chance de serem pegos em meio às prateleiras do fundo do salão, mas
não hesitou em chupar gostoso aquele membro que, segundo ela, devia ter o mesmo
tamanho de seu antebraço. Rafael gozou muito em sua boca e, embora os amigos
não tenham perguntado nada sobre algo parecia ter derramado em sua camiseta, as
risadas indicavam que já sabiam o que havia ocorrido quando os dois se
ausentaram.
Lisandra foi outra garota com quem
saiu que o marcou muito; era uma moça negra, de vinte anos, amante do dono da
padaria, que sempre deixava claro através dos olhares que já sabia sobre ele e
tinha curiosidade de conferir se os boatos eram verdadeiros. Utilizando-se da
desculpa de que o entregador havia faltado, ela foi até a casa de Rafael fazer
a entrega de um saco de pão e o jovem a convidou para entrar, visto que seus
pais não estavam em casa e ele havia deixado o cartão de débito na sala. Gozou
abundantemente possuindo a mulher na cozinha, onde ela se debruçou sobre a pia
e se entregou a ele sem qualquer pudor, embora de forma um tanto rápida, já que
precisava voltar à padaria.
Simone foi, sem dúvida, um dos
casos mais hilários e controversos. No meio dos alunos que se amontoavam em
frente à cantina da escola na hora do intervalo ela estava à sua frente e todos
falavam muito alto na tentativa de comprar algo para comer. Involuntariamente,
em meio ao aperto de estudantes, ele acabou encostando o membro naturalmente
grande em suas nádegas, fazendo com que ela tivesse que se esforçar para
disfarçar o espanto e, em meio aos amigos, continuou gritando e fazendo piadas
alheias ao ocorrido enquanto movimentava discretamente a mão para trás, sem ser
notada devido à bagunça, e acariciava o pênis de Rafael, sentindo-o crescer em
sua mão. Sequer olhou para ele durante o ocorrido. Logo depois, os dois se
separaram e ele comprou um chocolate assim que chegou sua vez, deixando a
montoeira de alunos em frente à cantina. Porém, tão logo ele saiu do local, ela
o pegou pelo braço, puxando-o em direção a um dos banheiros do pátio, que
estava interditado para obras, dizendo para a amiga, Solange, permanecer na
porta e avisar caso a inspetora de alunos aparecesse por ali. Havia três alunos
fumando maconha dentro do banheiro, incluindo o melhor amigo de seu namorado,
mas não foram problema. Ela puxou Rafael para dentro de um dos banheiros e,
sabendo que não podia demorar já que logo o intervalo chegaria ao fim, abaixou
as calças dele, enquanto, do lado de fora, os três estudantes já se olhavam e
tentavam conter as risadas, já sabendo qual ia ser a reação da jovem em
seguida. Ela soltou um grito de admiração e, por baixo da porta do banheiro,
eles podiam vê-la sentada sobre a tampa do vaso em frente a Rafael, dando a
entender claramente que estava lhe proporcionando um sexo oral. Em seguida
olhavam por cima da porta do banheiro e viam que Rafael já estava atrás de
Simone, que se apoiava contra a parede, segurando-a pela cintura e penetrando-a
de forma rápida e fazendo com que ela tentasse de todas as formas conter os
gemidos de prazer. Usando seus celulares os três colegas filmaram a cena, fato
que, ao ser lançado na rede, ajudou a aumentar ainda mais a popularidade do
colega superdotado e, como não poderia de ser, do namorado de Simone e da
própria.
Finalmente, o sono volta a tomar
conta de Rafael. Ignorando as mensagens que fazem a luz no canto do celular
piscar, ele volta a dormir, decidindo lê-las mais tarde.
Horas depois ele já está bem,
tomando o café da manhã e dividindo a mesa com os pais. As notícias no rádio
falam de escolas invadidas, impeachment da presidente e de outros políticos que
estariam sendo investigados, incluindo o ex-presidente da república.
- Você acha que ela cai mesmo,
pai? Eu acho que é tudo conversa fiada, que esses tipos nunca respondem por
nada...
- Tem que esperar pra ver, a gente
nunca sabe. E a escola, como tá?
- Daquele jeito, não tô podendo me
queixar, não.
- Sei, diz a mãe, entrando na
conversa. E as meninas, anda destruindo muitos corações?
- Nada, mãe, sou tão devagar com
isso.
- Sei... outro dia, voltando do
mercado, por acaso eu percebi algumas falando de você. Não ouvi o que era, mas
deu pra ver que gostaram do que viram.
- Quem eram? Será que eu conheço?
- Acho que sim, já devo ter visto
nas suas reuniões. Acho que eram a Samanta e a Audrey.
- Ah, sim...
- E namorada, nunca traz nenhuma
aqui em casa... vai me dizer que me não perdeu o cabaço ainda?
- Jorge! – Diz a mãe, diante da
piada do pai.
- De namorada tô sossegado, pai,
nada de me amarrar ainda.
- Entendi. Mas não tá dando a ré
também, né, diz o pai, dando risada.
- Porra, pai, aí cê tá tirando,
responde Rafael, compreendendo a piada, e retribuindo com risadas. Deixa eu ir,
senão acabo me atraso.
- Cuidado na rua, diz a mãe.
Mochila nas costas e ele deixa a
casa, caminhando em direção à escola. Ao atravessar a rua encontra o amigo
Tuca, que, mexendo no celular, não nota Rafael.
- Meu, fica vacilando com essa
porra que o vagabundo agradece...
- Vai se foder, Rafa. E aí,
beleza?
- Tranquilo. A Audrey me deu um
banho ontem, a mina mete muito...
- Cara, comeu mesmo? Como é que
foi?
- Então, meu, daquele jeito... A
casa tava vazia e a gente foi pro abraço. Mas sabe que tem uma coisa que me
deixou meio cabreiro... quando a gente saiu do quarto e desceu pra sala a mãe
dela tava lá.
- Caralho, será que ela viu vocês?
- Eu não sei... acho que não. Mas
se viu não falou nada, então não vou ficar esquentando com isso...
- Cara, tem uma coisa que eu
esqueci de te falar... sabe aquele camarada, meu, aquele que mudou de escola?
- Que é que tem?
- Tava com ele no zap ontem de
noite. Lembra da Simone, a mina que você comeu no banheiro...
- Ah, lembro. Ela também sumiu,
parece que os caras botaram a situação na net, putz, foi foda... tinha três
caras no banheiro que filmaram a cena, nem sei como não deu nada.
- Não deu nada em matéria de
diretoria, mas o cara tá atrás de você. Perdoou a mina e tudo, mas ele tá
querendo te pegar.
- É muito otário. – Eles chegam à
escola e caminham pelo corredor em direção à sala de aula. Eu não fui atrás
dela, ela que veio atrás de mim. Então ele perdoa a mina pra ela continuar
metendo galho nele e quer me catar? Não é à toa que é corno...
- Deixa rolar, mas fica ligeiro. –
Enquanto conversam, os amigos veem Audrey entrando dentro da sala. Um sorriso
tímido em direção a Rafael e uma risada contida junto às amigas. Ela retira uma
almofada da mochila e a coloca na cadeira, dando a entender que ainda possui
dificuldades para se sentar sobre qualquer superfície que não seja macia.
- Que foi, Audrey, não tá
conseguindo sentar direito, perguntam duas amigas, e ela sorri, com uma
expressão no rosto que parece confirmar o que as duas já sabiam sobre a tarde
do dia anterior. Como se não soubessem do que se trata, Rafael e Tuta continuam
conversando, dessa vez em tom mais discreto:
- Pelo menos o namorado dessa
estuda em outra escola... O outro teve que mudar porque ficou com fama de
galhudo...
- É, mas você devia dar um tempo
com essas minas que tem namorado.
- Cara, elas não tão nem aí pra
eles, quanto mais eu. É por isso que eu não namoro, aparece um de pau maior que
o normal e dá nisso.
- Será que não tem como você
ganhar dinheiro com isso aí? Já viu que tem mulher que curte...
- Nunca pensei nisso... Mas quem
sabe? Sendo menor de idade fica difícil descolar trampo, ninguém quer se
arrastar...
Horas mais tarde vem o intervalo.
Como de costume os dois amigos saem da sala e se dirigem ao pátio para
encontrar Marcão, que estuda em outra turma. Corredor cheio, estudantes
correndo, conversando, alguns sozinhos no canto. Inspetora de alunos discute
com uma aluna, professores deixam as salas acreditando que poderão ter meia
hora para dedicarem-se a si mesmos. Um cenário cotidiano.
- E hoje, vai comer a Audrey outra
vez? – Pergunta Marcão.
- Não combinei nada, mas
considerando que ela colocou uma almofada na cadeira pra sentar deve tá toda
assada ainda...
- Aff, meu, você é um cavalo... como
é que um cara vai arrumar mina nesse colégio com você por perto?
- Não são todas que querem provar
da coisa, velho, é uma ou outra... O que eu ia achar legal era arrumar uma
professora pra eu comer.
- Tá louco pra traçar a professora
de inglês...
- Vai falar que você não? Meu, se
ela me desse mole eu caía pra dentro sem dó. Mas ela não deu nenhuma entrada
ainda e nem é de falar muito da vida particular dela.
- Também nem esquenta. Tem mulher
de sobra pra comer aqui. – Subitamente, Tuca interrompe a conversa, chamando a
atenção de Rafael para um grupo de alunos a poucos metros dali.
- Rafa, discretamente, presta
atenção naquele bolinho podre ali no canto. Conhece os caras? – Rafael não
responde, olhando de forma discreta para o grupo de cinco rapazes que
visivelmente fala sobre ele, não demonstrando medo ao olhar para o que mais se
destaca como se, claramente, fossem quem tocou em seu nome.
- Conheço não. Quem são?
- O que tá te encarando direto se
chama William, ele é truta daquele namorado da Simone. Os dois são os melhores
amigos. Quanto tempo faz que aquilo aconteceu, um mês?
- Por aí. Mas e aí, você acha que
ele tá armando alguma pra mim?
- Bem provável. O cara demorou
umas duas semanas pra ver o vídeo, acho que por isso que não veio atrás de você
antes.
- Para, velho, se fosse por isso o
cara tinha vindo resolver a fita na hora.
- Seja como for, é bom ficar
ligeiro. – Mal Marcão tem tempo de terminar de falar, o grupo de quem falam se
aproxima da arquibancada da quadra, onde os três amigos se encontram.
Encabeçado por William, de quem falavam, os cinco param em frente ao trio e o
que está à frente do quinteto toma a palavra, dirigindo-se a Rafael:
- Você aí, levanta que chegou o
teu dia.
- Tá falando comigo?
- É com você mesmo, rapa, você
gosta de mexer com mulher dos outros, né? Então, tá na hora da surra! – William
se aproxima de Rafael e o segura pelo colarinho da camiseta, puxando-o para
cima. Aparentando ser maior que Rafael, com aproximadamente 1,90m, o adversário
se aproveita de sua condição física para tentar intimidá-lo, mas, como que por
reflexo, é empurrado de imediato, sendo lançado a aproximadamente dez metros de
distância, caindo de forma desajeitada e perdendo o fôlego ao atingir o chão.
Outro dos amigos, ao contrário dos que ficaram tomados pelo espanto, caminha
para cima de Rafael. Marcão resolve sair em defesa do amigo, que acaba sendo
mais rápido e atingindo o segundo adversário com um soco violento que o derruba
ao chão quase que tão rapidamente quanto Rafael moveu seu braço.
William se levanta, mostrando
indecisão sobre partir para cima ou não do oponente, embora mantenha uma
postura agressiva. Rafael, por outro lado, observado por todos no pátio, se
aproxima do desafeto agora com uma feição mais combativa, mostrando-se disposto
a encerrar o que não foi iniciado por ele.
- Tá bom, menina, você procurou...
E agora vai receber. – Antes que William possa desferir um golpe, Rafael o
atinge com um soco que tira imediatamente o equilíbrio do adversário atingido.
Em seguida atinge-o com um chute frontal no peito, que arremessa William contra
uma mureta e o faz girar violentamente de encontro ao chão do outro lado.
Rafael segura o inimigo pela roupa, levantando-o como leve pilha de roupa suja,
arremessando-o a uma distância considerável, caindo sobre os companheiros do
mesmo, que não têm tempo de esboçar reação alguma. E como não se desse por
satisfeito, Rafael segura William pelo colarinho e atinge um poderoso murro
contra o rosto do jovem, que de forma mais que notória poderia ter arrancado
sua cabeça. O que antes era uma briga agora se assemelha mais a um espancamento
que beira uma tentativa de homicídio. Os colegas de escola que antes vibravam,
agora começam a temer pelo resultado de tudo à medida que os golpes de Rafael
arrancam sangue do colega, até finalmente Marcão contê-lo:
- Para, Rafa, já chega! Você vai
matar o cara!
- Quem começou com isso foi ele,
velho. Agora eu vou... – Antes de completar a frase Rafael observa o rosto de
William, agora banhado em sangue, e volta a si, sentindo aos poucos a raiva se
dissipar até que solta o oponente. Em seguida, o grupo de William se afasta,
carregando o amigo, e Rafael corre até a sala de aula, enquanto no pátio os
estudantes debatem o ocorrido. Tuta e
Marcão correm atrás do camarada, na velocidade que podem, notando, pela
primeira vez, algo que antes não haviam percebido.
- Caralho, não sabia que ele
corria tanto...
- Correr não é nada, e de onde ele
tirou força pra arremessar o William daquele jeito?
- Meu, o importante agora é falar
com ele. Tomara que isso não dê em nada.
- Relaxa, a direção caga e anda
pra essas coisas. Depois, ninguém se mete porque todo mundo aqui é de menor...
Assim que chegam à sala de aula os
amigos encontram Rafael próximo da janela, observando William ser carregado
pelos amigos e, aparentemente, começar a se recobrar do que aconteceu. Eles se
aproximam e puxam conversa:
- Cara, que porra foi aquela?
Nunca vi você demonstrar essa força toda!
- Ou correr do jeito que fez lá no
pátio...
- É... Pelo jeito não é só pra
sexo que meu corpo funciona melhor que o normal... Mas eu mesmo não imaginava
que eu tivesse essa força toda também. Meu, eu quase arranquei a cabeça do
William...
- Relaxa, velho. Senta aí e fica de
boa. Daqui a pouco tudo se acalma e os caras não vão mais nem falar no assunto.
Se bem que você tá ficando muito em evidência.
Rafael não responde e os amigos
evitam o assunto pelo resto do dia, fora os comentários de outros colegas que
se aproximam e comentam o ocorrido. A fama do jovem começa a aumentar e, não
bastasse a que ele já possuía, agora sua superioridade física também começaria
a se tornar alvo de comentário por parte dos colegas.