Crucificação
maria da graça almeida
I
Negro ponto à luz do dia,
incólume, o pássaro voa.
Livre, como o Pai o concebeu,
nos ritos da imensidão, vai .
No alto da Cruz
- o suplício da agonia
cravado em quem não o merecia-
o maior amor do Pai.
II
Tosco T... E os torpes fundem
seiva morta e corpo vivo;
tez macia e dor do espinho;
peito da mãe, mãos de Adonai.
Fundem pena e inclemência;
poderio e impotência;
santidade e violência,
que se beijam e se traem.
III
Ó céus...
Almas límpidas e impuras
provam a mesma amargura,
feito um bem formado par.
Ó céus...
Brindam no ar e cospem no chão
a infame consciência
que morreu de inanição.
Ó céus...
Só trovão a ribombar.
Será que nem a onipotência
pôde, o filho, resguardar?
maria da graça almeida
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