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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->28. AS ATIVIDADES DE MARIA -- 20/06/2002 - 05:35 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Assim que se pilhou só com os filhos e os pais, Maria não teve dúvida em revelar-lhes o segredo da morte do marido.

— Desconfiava de que algo pudesse estar ocorrendo nesse sentido. Cheguei mesmo a conversar com ele sobre isso. E se me passasse a doença? Estou dizendo tudo isso para tranqüilizá-los, pois, desde há muito, vínhamos utilizando preventivos. Agora que os meninos são adultos, devo dizer-lhes que seu pai foi um pilantrão de primeira. Não sei se ele tentou levá-los a alguma casa de tolerância, visitar essas mulherzinhas baratas...

— Santo Deus, minha filha!

Era a mãe contemporizando. Parecia-lhe que a memória do genro devesse ser respeitada.

— Pergunte a senhora a eles. Talvez tenha alguma surpresa...

E aguardava que os jovens se definissem.

O mais velho atreveu-se:

— O pai, um dia, quis saber como nos “virávamos”. A Senhora sabe... Pois eu disse que não se preocupasse. Que tínhamos conhecimentos, amizades. Na faculdade e até no colégio, sempre com “camisinha”.

A postura franca da mãe e a recente tragédia familiar amenizavam os problemas do pudor que sempre se mantivera naquele lar, sob a enérgica visão do Cristo crucificado, na parede da sala. Ou das imagens de santos, sobre os móveis.

— Mas ele os levou...

— A mim, nunca, a não ser...

O mais novo apressou-se a completar:

— Comigo foi sempre a mesma coisa. Uma vez, ele até sugeriu que me aproximasse de uma “zinha” que estava “dando bola”. Mas concluí que não passava de teste. Quanto a saber de suas aventuras, quando era pequeno, muitas vezes, eu ficava brincando na rua, enquanto ele ia visitar...

— Está vendo, mãe? São eles que estão dizendo.

— E por que você não fez nada?

— Quem disse que não fiz? O Padre Timóteo ouvia-lhe as confissões e lhe dava tremendas penitências. Terços e mais terços. Ele prometia a Deus e a mim que estava tudo terminado, que não voltaria a pecar. Chorava. Tremia. Dizia que eram impulsos irresistíveis. Que estava acostumado desde solteiro. Eis no que deu...

— Mas você vai fazer os exames?!

— Já marquei para amanhã. Dolores, que me contou tudo, vai comigo. Se a Senhora puder ir, eu gostaria muito, principalmente quando chegarem os resultados. Tenho quase certeza de não estar contaminada, mas, se estiver, irei lutar. Que culpa tenho eu, se o meu marido trouxe para dentro de casa essa maldição?...

Estava a pique de sofrer um choque nervoso. A mãe foi buscar água com açúcar. Foi esconder as lágrimas. O pai aproximou-se e pegou-lhe a mão, encostando-a em seu ombro forte. Nada dizia. Pensava, apenas, que era muito tarde para dar uma lição no desgraçado. Aliás, tivera o seu quinhão. Lembrava-se de não se ter confessado antes de morrer. Se estivesse em pecado mortal... Ergueu a voz:

— Morreu em pecado mortal?

— Não, pai. Faz tempo que Jeremias parou de freqüentar aquela casa. Não estava agüentando os trancos que eu lhe dava. Ultimamente, defendia-se com o confessionário: “Se Deus me perdoou, por que você não me perdoa? Quer ser mais que Deus?” Ele me mandava conversar com o Padre Timóteo. Que fosse a outra igreja, se não ficasse satisfeita, imaginando que estivessem de conluio. Nos últimos tempos, estava andando na linha. Não fosse o centro espírita e a malandragem do Fernando, acredito que ficaria mais em casa.

Arriscou o pai um palpite:

— Conheço muita gente boa que vai ao Espiritismo...

— Há muita gente boa em todas as religiões. Acontece que ele estava destinando verba enorme para a benfeitoria... Para a igreja do Padre Timóteo dava bem menos. Não era ele quem me dizia, mas eu sabia de tudo. De tudo. E muito bem. Se, ao menos, o dinheiro tiver sido bem empregado, eu não irei protestar. Mas quem me garante que não havia alguém embolsando...

A água açucarada e as lembranças financeiras restituíram-lhe o equilíbrio emocional.

— O que eu queria falar com vocês diz respeito às firmas. Ninguém demonstrou interesse em administrá-las. Sugeriram que vendesse a loja e ficasse apenas com a fábrica. Não estava em condições de discutir. Mas já me decidi. Se os jovens aí não estiverem dispostos a largar os cursos para enfrentarem o “batente”, eu mesma vou ficar à testa dos negócios. Não tenho experiência, mas vou aprendendo com os chefes das sessões.

Hesitava em comunicar que resolvera contratar os serviços de Joaquim, oficialmente. O tratante recebia gordas comissões por fora. Agora não havia mais motivo. Como, porém, demonstrara interesse e sempre lhe dera todas as informações, tintim por tintim, podia confiar, ao menos por algum tempo.

— Mãe (era o mais velho), a Senhora tem certeza de que vai estar segura com aquele “traidor”?

Lembrava-se da expressão que ouvira do pai.

— Deixe comigo. Não tenho por que duvidar de sua fidelidade a mim. Conheço a peça e não me deixarei enganar. No primeiro titubeio, vai conhecer o olho da rua.

Estava assumindo desde já as rédeas dos negócios.

O pai gostou do que ouviu. Velho comerciante, conhecia profundamente o “métier”:

— Não se esqueça de que um bom contador é a garantia de gerenciamento seguro.

— Pois aí é que está o maior problema. Foi o contador que levou Jeremias ao Espiritismo. Sei que trabalha direito, mas acho que não vou tolerar conviver com essa figura. Tenho de pensar muito sobre isso.

Para quem estava viúva há tão pouco tempo, até que as manifestações da vontade superavam de muito o transe emocional. Quem a visse, diria que falseara os delíquios sentimentais. Que só representara o papel de viúva transtornada. Sofrera muito, a vida toda, com as imposições machistas do defunto. Iria aparecer para o mundo com sua verdadeira face. Deus estava, de novo, escrevendo certo por linhas tortas.

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